domingo, dezembro 17, 2006

2 de Outubro de 2004, cinema S. Jorge, 17h15m

Chego ao S. Jorge para assistir a mais uma sessão de curtas do festival “Indie 2004”, cuja primeira edição decorreu com assinalável sucesso, as salas cheias de gente jovem, que gosta de cinema. Em Abril de 2005 já vai haver a segunda edição. Porra, isto é que é uma democracia de sucesso! Uma coisa a funcionar em Portugal!
Troco o meu convite do Instituto Franco-Português por dois bilhetes para a abertura do festival de cinema francês, no dia 7 (Isto é só festivais e eu sou um intelectual). O meu lugar favorito de Lisboa (S. Jorge, P-20, primeira fila do balcão superior) está ocupado. Aceito P-27 e P-28 e fico todo satisfeito. Falta convidar uma amiga para a noitada cultural.
No átrio estão o Miguel Falcato (da Tertúlia BD de Lisboa, fundada pelo Geraldes Lino) e o Filipe Homem Fonseca, das Produções Fictícias. Ficamos à conversa, a olhar para um plasma. O Pedro Brito (que fez a capa do meu livro ‘De boas erecções está o Inferno cheio’, da POLVO) está a dar uma entrevista ao canal interno, se assim lhe podemos chamar.
Passam dez minutos até eu perceber que o Pedro Brito está a dez metros de mim, ao vivo, por baixo do plasma. Coisas dos sonos trocados e de ter acordado há pouco tempo. Ou então sou mesmo estúpido. Hipótese a considerar com alguma atenção. É tempo de entrarmos para a sala. O Pedro Brito vem falar ao Filipe, já nós os dois estamos sentados. Por coincidência tínhamos bilhete lado a lado. É um bocado perigoso, porque ele vê-me a votar no filme com argumento dele. “Sem respirar” (oito minutos, com desenhos do Pedro Brito) leva um 4 sincero (0 a 5). Não faço fretes a amigos. O Pedro é um valor da animação portuguesa. Dou dois cincos a duas curtas nórdicas delirantes e o filme espanhol de animação leva 4, porque os cenários são muito bonitos, apresenta um discurso narrativo coerente e a música entra a matar. No dia seguinte fico a saber que “Com qué la lavaré” ganhou o prémio das curtas. Não vi todas, mas acho exagerado. A animação é fraca. Básica, mesmo.
A miúda espanhola é assim para o pequenininho e disse umas palavras antes do filme, com voz tímida. Chama-se Maria Trenor. Não sei porquê, disse uma frase em espanhol e depois deu-lhe para falar em inglês. O pessoal ficou banzado. Foi giro ver uma espanhola a falar inglês.


19h10m – Megasex

Lembrei-me de ir comprar o passe social aos Restauradores. Não havia. Só no Saldanha. Ponho-me a subir a Avenida da Liberdade e acabo a visitar a Megasex. Não sei se é a 1 ou a 2. Há outra a subir para o quartel do Carmo. Esta é a Megasex que tem sexo ao vivo, com o povo a meter moedinhas e a apreciar os artistas. Nunca vi. Mas prometo ver, em nome dos leitores.
Sim, em nome dos leitores e das leitoras, seus palhaços! Se eu quisesse ver já tinha tido centenas de ocasiões ao longo destes anos todos! Vocês são é uma cambada de ingratos. Sim, porque eu farto-me de gastar dinheiro para vos reportar a realidade nacional do momento. E não tenho adiantamento da editora. E depois, como é? Suponham que há um imprevisto qualquer e o livro fica em águas de bacalhau. Quem é que me paga o dinheirinho gasto a investigar? São vocês, seus palhaços? Ah! não são? Então, xarap!

(Desculpem, não queria irritar-me. Só tenho de vos agradecer por terem comprado o livro e continuarem a ler. Se chegaram aqui, merecem uma medalha de mérito cultural. Eu posso explodir de vez em quando. Não me levem a mal. Sabem, eu nasci de cesariana. Isto tem alguma influência. Não sou mau gajo, mas passo-me um bocadinho de vez em quando)

A TV ao pé do bar está a dar um jogo do campeonato espanhol. Espreito, mas nem fixo quais são as equipas. Depois ponho-me a mirar e remirar os vibradores, que cada vez estão mais bonitos. Gosto particularmente dos grandalhões verdes e dos grandalhões rosa, transparentes. Aquilo é que é design. E depois o que é que elas fazem com eles? Sabem, não sabem? Há mulheres que não respeitam nada.
Olho para os cartazes com as fotos dos artistas do sexo ao vivo. Não conheço ninguém. É rapaziada que anda a dar duro pela vida. Isto de subir o guindaste à hora marcada tem que se lhe diga. Gramava ver o Teixeira Duarte ou o Soares da Costa nesta vida.
Passo à zona dos DVDs. Vejo aquilo tudo em ritmo calmo, embora sem abusar da minúcia. Detenho-me num DVD das produções Marc Dorcel. Acabo por comprar, a 29 euros. Pago eu, não é a Oficina do Livro, estão a ver? Por motivos lógicos até devia poder descontar no IRS. Sim, se o Miguel Esteves Cardoso escreveu “O amor é fodido” e foi trabalho, este livro é o quê?

Se o mercado de trabalho no jornalismo estivesse normal, como é que eu tinha tempo para andar a peregrinar as catedrais da noite? Impossível. Ainda me lembro dos meus tempos da Gazeta dos Desportos. Quase nem dava tempo de alugar um VHS pornográfico, entre a correria Redacção-Estádios. Foram os tempos da descoberta do porno: Ginger Lynn, Traci Lords, a Private... ah! a inocência, bonita coisa...
Bem, acabo por sair da Megasex ao mesmo tempo que um senhor de fato cinzento e ar triste, que não comprou nada. Vou a pé Av. Liberdade acima, com o objectivo de ir comprar o passe social ao Saldanha. O tempo está quente. Não parece nada Outubro, mas também não se percebe nada do clima. É aproveitar o que se pode.
Desvio-me pela Alexandre Herculano e depois viro à esquerda e começo a subir. Entro na outra sex-shop. Dou as boas-noites ao empregado brasileiro e deparo-me com um adepto do Benfica trajado a rigor. Anda um bocado perdido no meio dos DVDs. Um tipo dos seus trinta e tais, com bom aspecto, está a ver os DVDs sado-masoquistas. A oferta aumentou consideravelmente. Os DVDs da área gay também conquistaram espaço. E está tudo arrumado por temas.
Só fiquei na loja uns cinco minutos. As paredes estão cheias de calcinhas matreiras, de todas as cores, desde o amarelo-canário (está certo, é para cobrir dignamente a passarinha) ao vermelho-Benfica, passando pela zebra-zoo.
Deixo dois “aviões” a observar os vibradores. Não ouvi quase nada da conversa, mas percebi que eram profissionais a comprar objectos laborais para uma noite de trabalho/prazer. As duas coisas? Só elas poderiam responder.
Venho por ali acima e dou com uma loura lindíssima na Rua da Sociedade Farmacêutica. Está vestida de forma perfeitamente discreta. Mas eu desconfio que pode ser uma menina de leste a caminho do “Elefante Branco”. Gosto de acertar estes palpites. Um escritor pode e deve ser um observador. Dou-lhe uns metros de avanço e sigo-a, usando as mais recentes tácticas da PJ, em cuja zona me encontro. É fácil: é só andar atrás da pessoa sem ela perceber que vamos atrás dela de propósito. E depois não se pode perder a pessoa de vista. É muito mais fácil do que acontece nos filmes policiais. Deviam ter uma secção de Perdidos e Achados.
A miúda mete uma chave à porta e entra num prédio da rua. Não foi para o “Elefante Branco”. Mas mora perto. Ainda é cedo. São 20h32m. Os meus palpites podem bater certo. Nunca saberei.

(Gostaram da gravidade deste “Nunca saberei”? É muito literário)

Dobro a esquina e vejo um cartaz da Junta de Freguesia do Coração de Jesus, a menos de 30 metros do “Elefante Branco”. Tento fazer uma festa a um cãozinho, mas ele sobe para o banco onde está sentada a dona. Não dá confiança nenhuma.
— Ele está com medo de mim.
— Pois é, desconfia de quem não conhece.
Dou as boas-noites à senhora e prossigo. Na outra esquina está uma livraria religiosa. Nesse momento tenho de correr, a atravessar a rua, porque o 74 vem na broa. Para onde vai? “Corpo Santo”. Nesta zona os nomes combinam todos.
Lá compro o passe no Saldanha, já com um dia de atraso.
Janto em casa.
Avisam-me que está a dar o “Cabaret da Coxa”. Fico a ver a repetição. Sou militante do “Cabaret da Coxa”. Fui entrevistado duas vezes. Na primeira era para ter o maestro Vitorino de Almeida como companheiro de programa. Na volta foi a Marisa Cruz. Estive 15 dias a recuperar do desgosto. Na segunda vez fui o segundo entrevistado, depois da Rita Ribeiro e do Hugo Rendas.
O Unas disse-me que eu já era da família.
— Pá, já és o poeta-fetiche do Cabaret! Aparece quando quiseres...
Isto foi no dia da “rentrée”, com entrevista ao gajo que invadiu a final do Europeu, o Jimmy Jump.
Neste programa, o entrevistado é o José Jorge Duarte, mais conhecido pelo “Lecas”. Numa de militância, ponho-me a cronometrar o tempo da entrevista: 11 minutos. É muito pouco. As entrevistas estão a perder terreno no “Cabaret”. Fico com pena. Considero as entrevistas o espaço-nobre do programa.
Mas gramei à brava ver os “bastidores” da gravação do “TV Piston”, com uma stripper egípcia que a produção do Cabaret contratou ao “Passerelle”. Eles têm um protocolo.
Acaba o Cabaret e anunciam um filme erótico. Ponho-me a fazer “zapping”. O filme erótico tem mulheres bonitas, mas é aquela seca. O argumento serve para exibir os nus. Uma maneira de fazer porno sem a coragem de mostrar as penetrações. Porque erotismo é outra coisa. É mais “O amante de Lady Chatterley”, com a Sylvia Kristel em plena forma.


Lembro-me de uma Playboy brasileira com um ensaio sobre o filme. A primeira Playboy que comprei foi em 1982. Tinha a Suzane Carvalho na capa. Abençoada Natureza, que tais filhas tem! Um gajo meu amigo que está na PJ perdeu-me um número com um estudo sobre vodkas e a Ísis de Oliveira. É o que dá emprestar as coisas. Já passaram 20 anos, mas o gajo diz que continua à procura da revista. E depois ainda ‘manda bocas’: “Obrigadinho é o que eu te desejo. Desculpa lá a maçada que me deste”.
Bem, deixo a Sic Radical e volto ao princípio. Começo na RTP 1. Vejo uns nomes italianos no genérico e ainda levo meio minuto a perceber que é o “Cinema Paraíso”. Já vi o filme várias vezes. É longo. Da primeira vez que o vi, no Londres, até chorei. Foi numa sessão das 19 horas. Depois segui até ao Pavilhão da Tapadinha, onde decorria um torneio de futebol entre jornalistas. Não era previsto eu jogar, mas acabei por ir à baliza da “Gazeta dos Desportos”, frente à “Capital”. Arranjaram-me um equipamento à pressão.
A “Gazeta” estava um bocado descoordenada e a “Capital” passou a vida a atacar. Acabámos por perder 5-4, mas defendi à brava. Nos balneários, o capitão Mário Nóbrega (que agora está em A BOLA) disse aos jogadores:
— Pensem no que fizeram mal, para corrigir. E se não perderam por mais podem agradecer ao guarda-redes.
Assim até dá gosto perder! E podem crer que a “Gazeta” perdia muito. No primeiro torneio de futebol de cinco do Atlético, em 1990, perdemos os jogos todos, mas ganhámos o troféu do fair-play. Nessa altura eu tinha os cabelos compridos e jogava à frente. Fui o melhor marcador da equipa: 4 golos em dez jogos! Houve um jogo em que marquei dois golos!
O segundo melhor marcador foi o Filipe Viana, que a malta alcunhou de “Fitrip” e fumava à bravex. Corria como o caraças, mas só durava dez minutos. Eu durava o jogo todo. Andava a correr de um lado para o outro, sempre com um defesa atrás de mim. Eles não me conheciam de lado nenhum e por uma questão de princípio marcavam o gajo mais adiantado. De maneiras que era um bailado entre o Maneta e o Fugitivo.
O Nelson (que era o colaborador de andebol) teve uma tirada que resumia o estado de espírito da equipa:
— Isto a seco é que custa muito! Quando se marca um golito é logo outra coisa!

Pois, é que a Gazeta ficou em branco várias vezes. Só nos dois jogos de treino com o Atlético (éramos amigos daquela malta) levámos 18-1 e 17-2, com os gajos a jogar devagarinho. No torneio foi mais suave. Mas a última derrota custou muito. Foi com a selecção do CNID (Clube Nacional de Imprensa Desportiva). Eles estavam em últimos e nós em penúltimos, com um goal-average muito melhor, aí por 20 golos.
Bastava-nos o empate, mas a malta queria ganhar. A coisa até estava equilibrada, mas no início da segunda parte sofremos três golos aí em cinco minutos e perdemos 8-4, acabando o torneio no último posto. Depois a malta habituou-se a ficar em último lugar nos torneios. O importante era participar.
E lá sensibilizámos a Administração da “Gazeta” a gastar uns 15 contitos em equipamentos Tadeu e Francelina, encomendados na Casa Sena.
— Temos de arranjar uns equipamentos diferentes de todos os outros, porque não há cacau para equipamento secundário — disse o Frederico, que tinha ficado incumbido de “dar a volta” ao administrador, para entrar com a nota.
De comum acordo entre mim e o Fred, escolhemos camisola roxa, calção preto, meia roxa com gola alta preta. O nosso “stopper” José Peixe (por alcunha o Tubarão Roxo) disse que estava muito bem, assim não se notavam as nódoas de tinto. Mas a maior parte da malta olhou para mim e para o Fred com má cara.

(Leram aqueles álbuns do Tintim em que apareciam ao Milou as vozes da consciência? Com um Milou-diabinho a envenenar e um Milou-anjinho a aconselhar o caminho moral? Bem, imaginem agora um Luís Graça-diabinho e um Luís Graça-anjinho a falar com o Luís Graça-autor.
Diabinho — Fosca-se, man, a malta quer é sexo. Volta lá ao sexo e deixa as memórias estúpidas. O jornal até já acabou, fónix!
Anjinho — Não, assim é que está bem. Recordar é viver, já cantava o Vítor Espadinha)


01h20m — Zapping sexual

Eu não sou mal intencionado nem tarado sexual. A Helena Vasconcelos, brilhante líder das Comunidades de Leitores, denunciou-me aos novos comunitários na Biblioteca de Algés: “Ali o Luís só pensa em sexo!”.

Para já, não é verdade. E mesmo que fosse, provo de seguida que sou apenas uma vítima da sociedade de consumo. A verdade é que toda a TV (olha, se fosse só a TV...) está infestada de sexo.
Na RTP 1 o “Cinema Paraíso” acaba com uma antologia de “linguados”. Na 2 nada a assinalar. Na 3 não me lembro, na 4 há porrada da má, que é mais barata. No GNT há strip integral, em barcos com a bandeira do Brasil. As miúdas são bonitas e o fundo musical é de guitarradas blues. No famoso 18 há umas boazonas a gemer. Por acaso a cena nem é má, mas fico lá dez minutos só para perceber de que nacionalidade é o filme. Finalmente lá aparece um “Do you like it?” com sotaque americano. Curiosamente, tal como na GNT, as cenas passam-se num barco, em pleno rio. Mississipi? Não faço ideia. Não vi mais nada.
Na Sic Radical está a xaropada do filme erótico com nome que nem fixei. Antes o “Ninja das Caldas”.
Vou para o meu quarto. Dou com o pequeno saquinho preto de estrelas doiradas. Todas as sex-shops dão destes saquinhos, que são mais opacos. Para mim é tinto. Assumo o que faço e o que vejo. Não me lixem! Se compraram este livro qual é a vossa autoridade moral para criticar?
Sim, já leram “A Idade das Trovas”, do Inocêncio Pinga-Amor (sou eu), Universitária Editora, 1999? Já leram “O homem que casou com uma estrela porno e outros contos perversos”, da Polvo, ? (Por acaso este foi mal escolhido). Já leram “De boas erecções está o Inferno cheio”, da Polvo? (Bem, este também foi mal escolhido. É do meu heterónimo Dick Hard).
Ah! cá está um bem escolhido, mas é em mexicano: “Ventana a la nueva poesia portuguesa”, editora Desierto. Tomem! Ou “Meia-Dúzia de Maldades”, 3º prémio do concurso Inatel Novos Textos de 2000? (Por acaso este também foi mal escolhido, porque começa com um serial killer a torturar uma miúda nua). Isso não interessa, uns gajos de Valência até fizeram ensaio sobre isso na revista Art Teatral. E disseram que eu era um gajo bom. E foi um professor universitário. E na mesma crítica falava do Jaime Rocha, que foi jornalista do PÚBLICO e não tem as paranóias sexuais que dizem que eu tenho. Por isso estão a ver...
Além do mais, há ou não liberdade de expressão? Ou a liberdade é apenas força de expressão?


02h03m — Ponho-me à vontade. Ligo o computador. Abro no coiso dos DVDs. Lê-se assim: “Uma noite no bordel”, realização de John B. Root. Estão a perceber o trocadilho com o Johny B. Goode? Os filmes pornográficos têm muito disto. Por exemplo, o nome do actor Alain Deloin (colaborador habitual da Private e dos filmes de Pierre Woodman), que na realidade se chama Akim e tem um pénis bastante rugoso.
“Uma noite no bordel” é das Produções Marc Dorcel, o que por si só já dá certas garantias de qualidade. Distribuído em Portugal pela Milénio Editora. Actrizes: Melanie Coste, Monica Sweetheart, Nomi, Tiffany Hopkins.
A Melanie anda nesta vida há poucos anos. Acho mesmo que já é uma starlette do século XXI. É uma miúda fina e educada. Suave mesmo. Muito comunicativa. Vi-a numa reportagem de bastidores do Salão de Bruxelas, com o realizador a apresentá-la como a “newcomer” do momento. Pois, nos filmes porno não há “draft” como na NBA, mas as estrelas são escolhidas em castings.
A Monica é uma voluptuosa de leste, que trabalhou para a Private e depois acho que chegou mesmo às produções americanas. Lembro-me de uma cena de felação em que o menino acaba a ejacular para cima dos óculos da Monica. E duplas penetrações e tal.
A Nomi é uma francesinha loura querida, muito desinibida, como convém.
Mas a grande revelação da meia-hora de filme que já vi foi a Tiffany Hopkins, que também deve ser francesa. Aparece vestida de enfermeira (um clássico) e acaba a massajar um matulão. O que se destaca no filme é o à-vontade da demoiselle. É uma jovem tenra, a irradiar frescura por todo o lado. Os seios pequeninos, genuínos e arrebitados. Para quê os quilos de silicone?
A lingerie é muito bem escolhida e é um regalo para a vista. Como mandam as regras, Tiffany despe-se progressivamente. Pois, um bom filme pornográfico tem de ser erótico e revelar preocupações estéticas. Deve mostrar a realidade com o manto diáfano da fantasia. Ou seja, munir-se de mulheres bonitas e moldá-las a um padrão estético. Maquilhagem, cabeleireiro, aparar o púbis, essas coisas.

Já pensaram que a esmagadora maioria das capas dos filmes porno não é pornográfica, mas antes erótica, a fim de estimular o desejo e espevitar a imaginação?
Lembrem-se de uma foto premiadíssima e que é um clássico do erotismo. Um homem está sentado na praia e no areal à sua frente cruzam-se duas mulheres. Uma toda nua, outra com um véu por cima. Ele olha para a que leva o véu.
Bem, voltando à Tiffany. Ela representa com grande descontracção, o que já não é dizer pouco. É verdade que muitas das estrelas porno não sabem representar, mas não se pode levar tudo a eito. Olhem, a americana Veronica Hart (que até entrou na série “Sete Palmos de Terra”, morria electrocutada na banheira, lembram-se? E fez de juíza no “Boogie Nights”, do Paul Thomas Anderson) até tinha cursos de representação. Hoje é realizadora.
Bem, voltando à Tiffany. Não sei se a escolha do nome tem a ver com o Tiffany’s, mas a menina é mesmo uma pequenina jóia rara, “ivre de tendresse”. Esta eu coloquei entre aspas, mas inventei agora. Também escrevo poemas em francês. Poucos, mas escrevo. Ivre de tendresse quer dizer embriagada de ternura. Como vêem, em francês fica muito melhor. Não se pode escrever um livro com todas estas vergonhas e estar a dar uma de snob. Por isso, não é por puro pretensiosismo que escolhi estas palavras. É apenas porque estas palavras tinham de estar ali. Apesar desta obra ser escrita em vários registos (até em registo predial, porque é escrita num quinto andar de um prédio urbano).
Bem, voltando à Tiffany (e ainda nem acabei de ver a cena dela. Não, não foi por me ter masturbado e ejaculado. Foi por ter um javali ao lume), ela começa por entrar na sala de bata branca e estetoscópio azul. Vai falando com o cavalheiro que está deitado de barriga para baixo e diagnostica-lhe stress. E vá de o massajar nas costas. Mas o monsieur continua tenso (está no script). Aí ela aplica os métodos mais revolucionários. E toma lá com o vigoroso pelas goelas acima.

(Desculpem a terminologia, perfeitamente deslocada. Se estou a defender a tese do filme porno bem produzido e sofisticado, não deveria utilizar linguagem mais fernando-rochesca. Daí o ter utilizado anteriormente a palavra felação, em vez de broche. Mas como a miúda se chama Tiffany o broche até pode ter dois sentidos. Pois, para cima e para baixo)
Bem, voltando à Tiffany, a seguir ela cavalga meigamente o senhor. Um expert da pornografia como eu tem um certo olho clínico para descobrir quando elas estão a ter uma certa fruição carnal. Parece ser o caso da menina, que terá uns 20 anos. Desculpem a minha ignorância. Devia ter investigado melhor. Mas a vida é o que é. Vantagens do escritor sobre o jornalista. O escritor faz o que lhe apetece. O jornalista tem um código deontológico para desrespeitar. Não é fácil.
Fiquei-me por aqui no filme.
E foram 36 minutos que segui com interesse. A película começa com um tipo que tem três iniciais no nome (acho que se chama Hervé qualquer coisa, na realidade, mas com as iniciais parece que é um robot) a conduzir a caminho do bordel. O tipo é da polícia e tem de se infiltrar na casa de prazer. Em monólogo com o espectador (isto é correcto? Monólogo a dois?), vai defendendo várias teses de apreciável recorte sociológico, entre as quais a legalização da prostituição, se bem me recordo.
Chegado ao bordel, a criada não o deixa entrar. A criada é a Nomi, que praticamente ainda não entrou em acção no filme. Apenas se vê, logo no início, uma ténua cena de masturbação, quando ela recorda com pesar o momento em que recusou prestar serviços sexuais e ficar-se apenas pela sua função de “bonne”, ou seja, criada. Não para todo o serviço, no caso em apreço. Qual preço? Já tinha dito. O DVD custou 29 euros.
Mas o Hervé consegue entrar com uma menina do bordel que chega atrasada e o toma por um cliente. Na sala, o pessoal já está em acção, mas de forma suave. A Melanie Coste (dona do bordel) recebe os convidados com elevação. E faz a distribuição do jogo, tipo base. Henrique Vieira dos bons tempos do Benfica. Ou Nikos Galis. Ou outro. Augusto Baganha, do Sporting. Isso agora não interessa nada, como diria a Tereza Guilherme, que também tem experiência de orientar pessoas fechadas numa casa em que o sexo ocorria apenas às escondidas. Mas também havia tudo comme il faut, com felações cronometradas da Verónica ao Sérgio. A Verónica por acaso até era andebolista e não basquetebolista.
E a Melanie sacrifica-se mesmo por uma menina do bordel que não quer ser empacotada no segundo canal. Estão a perceber? Sexo anal... pois. E lá vai a Melanie Coste na boa. E junta-se-lhe a Lea de Mae, que é uma checa que foi atleta olímpica. Não percebi se da natação se dos saltos de trampolim. Mas vi um “making of” em que a menina mergulhava que era um primor e se saracoteava para a câmara espectacularmente.
O cliente é um italiano pequenino com uma grande sarda, habitué nas produções italianas. Aqui neste filme fala francês e safa-se muito bem. Também dá uns toques jeitosos no registo cómico.

O cavalheiro já está para sair quando os seus bons préstimos de cliente habitual são requisitados por outra menina da casa, que está a dar formação a uma nova menina. Lá vão os três para outro quarto, onde a novata pratica felação (broche, caralho!) no italiano. Mas ele diz-se muito cansado e a menina mais velha no bordel acaba por recriminar a mais nova, pela sua falta de técnica. A mais nova é uma loura lindíssima e acaba a masturbar o italiano. Por brincadeira, cospe para as mãos, tipo cavador profissional. Pode parecer javardice, mas este registo cómico funciona bem.
Lembrou-me logo o senhor Valentim.
É preciso recuar até aos anos 60, na Venda do Pinheiro, muito pré-Big Brother. Eu tinha uma vivenda com pouquinho terreno, mas os meus pais mesmo assim cultivavam qualquer coisa. E contratavam o senhor Valentim e uns amigos para ir cavar à jorna.
Era tanto à hora mais “pistola”. A pistola era uma litrada de Camilo Alves tinto. Estávamos em pleno salazarismo. Beber vinho era dar de comer a um milhão de portugueses, mas na minha vivenda eram só o senhor Valentim e mais um amigo.
O senhor Valentim era um homem bastante alto (mas eu também era bastante baixo com seis anos), corpulento, sempre vestido de preto, com bóina a condizer, voz de trovão e simpatia contagiante.
— Ó menino, largue lá a enxada, o menino está a fazer buracos. Cavar é outra coisa. Dê cá isso...
Eu dava-lhe a enxada, mas achava estranho tanto pormenor técnico.
E o senhor Valentim volta e meia pousava a enxada, cuspia para as mãos com toda a alma, agarrava na enxada e dava-lhe uma cavadela tão grande que a terra parecia o Diabo a fugir do Richard Burton no “Exorcista”.
Eu depois imitava e punha-me a cuspir para as mãos.
Um dia a minha mãe viu e deu-me uma descasca. Aquilo baralhou-me. Eu percebia que não podia beber vinho, mas essa de não poder cuspir para as mãos não me entrava na carola... então se o profissional o fazia com devoção quotidiana?!?... ele há coisas...
Bem, voltando à Tiffany, perdão, à menina nova na casa... ela acaba por fazer o italiano ejacular (vir-se, caralho!) e é finalmente aplaudida pela menina mais antiga. O italiano proclama “Milagre!”. E como ejacula completamente deitado, fica com o peito coberto de sémen. Chega-lhe até ao pescoço. O que eu apoio vivamente. A cena deixaria Maria Teresa (é com s ou z?) Horta satisfeita. Não podem ser apenas as mulheres a levar com esperma (esporra, caralho!) no corpo. Já é altura de as coisas mudarem.

Nesta cena, entra a magia do porno. O italiano ejacula em abundância (esporra-se como o caralho, caralho!), o que na realidade não seria possível. Por isso, é fácil deduzir que as duas cenas foram rodadas em dias diferentes, para se poder recobrar fôlego.
Pronto, a 1/3 do filme é o que vos posso dizer. Talvez volte ao filme, mas nunca se sabe. Ainda agora estou a começar o diário e já vou quase com 50 mil caracteres. Os editores não papam livros grandes. O quê? O Miguel e o “Equador”? Sim e depois? Eu não sou o Miguel Sousa Tavares. Eu vejo-me forçado a andar pelos antros do sexo para ver se vendo qualquer coisita. O Miguel teve o privilégio de se abraçar a um projecto de fôlego.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Este filme "uma noite no bordel" foi um dos primeiros filmes que começei a assistir na juventude. gostaria de reve-lo... voce tem?

10:05 da tarde  
Anonymous Luís Graça said...


Por acaso não tenho.

Mas acho que já o vi na Net.

Sugiro uma busca no xhamster.com

ou no nudevista.com.

Na secção "French" ou Full movies.

Ou colocando "Tiffany Hopkins" no

search.

Por acaso conheci-a na apresentação

do Salão Erótico de Lisboa de 2006

e falámos do filme nessa

inesquecível noite do Jardim do

Tabaco.

Um abraço.

3:08 da manhã  

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