terça-feira, janeiro 02, 2007

5 de Outubro de 2004, 16 horas

Aí vou eu para o Sporting-FC Porto

Saio de casa pelas 16 horas. Hoje é um dia grande. Vou assistir à estreia dos meus “leões” na I Divisão de hóquei em patins, frente ao FC Porto, campeão em título. Há nove anos que o Sporting andava arredado destas vidas. Uma longa travessia do deserto, portanto. Como fui assistir à final da II Divisão, frente à Académica de Espinho, já sabia onde é o pavilhão da Escola Secundária da Parede. O jogo começava às 18 horas.
Passei pela estátua do António José de Almeida e pisquei-lhe o olho. O 5 de Outubro também é um dia especial para ele. “Surpresa”. Pois, não foi a Daniella Cicarelli que me apareceu à porta a lamber um chupa-chupa. É que às 16 horas de um dia feriado andava uma puta a atacar no Técnico! Por acaso uma miúda gira e novinha, toda de preto. Na esquina estava um tipo parado, encostado a um gradeamento. Podia ser um chulo, mas o pormenor de ter um saquinho vermelho ao ombro descredibiliza um pouco a teoria.
Apanho o Metro até ao Cais do Sodré e depois entro para o comboio das 16 e 40 horas, rumo à Parede. Passo os olhos pelas “gordas” do PÚBLICO e de A BOLA, mas não consigo ficar a ler por muito tempo. Este 5 de Outubro está um autêntico dia de Verão e o Tejo brilha. Há anos, na Cruz Quebrada, saiu-me um pequeno poema: “Almas são pequenos barcos fundeados no cais do entardecer”.


19h35m

Saio do pavilhão da Escola Secundária da Parede. O Sporting perdeu por 4-2, depois de ter recuperado por duas vezes das desvantagens de 0-1 e 1-2. O jogo foi equilibrado e assinalou o regresso de Filipe Gaidão à competição, depois do acidente de que foi vítima numa piscina.
A mulher de Gaidão, Paxi, está num camarote perto de mim, a apoiar o Filipe. Aquilo estava cheio de mulheres bonitas e os fotógrafos aproveitaram para fazer o gosto ao dedo. O futebolista Sá Pinto também foi dar apoio moral ao Filipe, a quem chamou de careca várias vezes. O Gaidão está agora com uma carecada parecida com as do Pedro Gil e do Reinaldo Ventura. O FC Porto está a ficar muito “cabriolet”.


Se não fosse o jantar da Tertúlia BD de Lisboa, tinha ficado para assistir ao encontro feminino entre a Escola Secundária Fernando Lopes Graça e o Sesimbra. Perguntei a uma jogadora de onde era a Escola Secundária Fernando Lopes Graça. Ela olhou para mim espantada: “É de aqui”. Pois é. Eu conhecia apenas o pavilhão como sendo o da Parede. Peço desculpa ao maestro. Na saída do pavilhão estava o calendário das miúdas e fiquei a saber que tinham levado 7-3 das Lobinhos, a 25 de Setembro, no Torneio de Abertura.
Quando chego à estação já é de noite. Um puto apoiante do Sporting está ao lado da máquina automática e pergunta-me se lhe posso dar 20 cêntimos para o bilhete. Digo que não e dou-lhe 50 cêntimos. Ele ficou tão espantado que nem agradeceu. O outro ao lado riu-se e cravou-me mais 20 cêntimos.
Afasto-me. Vou para o outro extremo da estação. Não há dúvida de que a líbido dos jovens está a funcionar em pleno e de que os telemóveis vieram para ficar. Um casal de namorados está sentado nos bancos. Ele está de telemóvel encostado ao ouvido e vai aproveitando para beijar gananciosamente a namorada enquanto o seu interlocutor fala.
— Não te preocupes. Já tenho quem me leve a casa. Não vou chegar tarde.
Como já é de noite, regresso a ler os jornais. Tomo o metro, para sair na Avenida. O jantar da Tertúlia é no Parque Mayer, como habitualmente. Na carruagem, um grupo de miúdos e miúdas adolescentes não se inibe de se apalpar e beijar à vista de todos. Há cenas de empurrões e carolos entre o grupo de amigos. Há segredinhos entre as miúdas e também há rapazes a fazer números de ginástica em suspensão, agarrados às argolas.


21h14m

Chego à Tertúlia. Opto por comer pataniscas com arroz de legumes. Não me sai nada no sorteio das rifas. Compro dois BD Press (uma recolha dos artigos sobre BD publicados durante o mês, com uma impressão do blog www.kuentro.weblog.pt em anexo) ao Jorge Machado-Dias.
Depois, um grupo de 12 foliões vai até ao bar Foxtrot, para tertuliar mais um bocado. O capitão do grupo é o fundador da Tertúlia, o Geraldes Lino. A novidade é a presença do escritor Luís Filipe Silva, grande entusiasta de BD e de ficção científica. Já somos amigos desde os tempos do DN-Jovem. Aproveitámos para falar da distinção ao fundador do suplemento, o grande Manuel Dias, que foi condecorado pelo PR, pelas 19 horas. Fala-se em combinar um jantar de homenagem ao Manel, que é um gajo tímido e não gosta destas coisas. Penso que ainda vou publicar este livro primeiro. Já sei como são estes processos em Portugal.


No Foxtrot confirmo que a líbido do pessoal está mesmo em alta. Um quarteto já trintão está todo enrodilhado num sofá. Atenção, não estão em altos “linguados”, mas elas estão ao colo deles, todas encostadas. E não havia necessidade. Não faltava espaço e conforto. Eu sei muito bem. Já estive muitas vezes sentado no sofá.
No nosso grupo, a Isabel destacou-se pela coragem em “meter conversa” com a ave azul e amarela que está de plantão no seu poleiro. A arara branca que não se calava durante os jogos de matraquilhos já faz parte do passado. Tirando a menina do grupo, ninguém mais quis ir fazer festas à emplumada figura, cujo bico colocava algumas reticências a um contacto físico mais efectivo. Mas o bichano estava bem disposto e recolhia os salgadinhos com a pata, para os saborear convenientemente. Na gaiola do lado, o melro seguia a cena com toda a atenção. Fui lá assobiar um bocado e acho que ele ficou satisfeito. Pelo menos ouviu-me atentamente. Talvez me tenha insultado em melronês corrente, mas eu não sei nada disso.
Venho para casa de boleia com o António, como habitualmente. Ele está a considerar a hipótese de se deslocar a Madrid propositadamente para um concerto de uma banda de que nunca tinha ouvido falar. Nem fixei o nome. Mas era um nome giro e esquisito. Para o mês que vem há mais. Ficou no ar a hipótese de se ir ao cinema assistir à “Catwoman”, em comando especial da Tertúlia dos Bedéfilos Cinéfilos, uma subtertúlia criada pelo Geraldes Lino, com a missão de “papar” filmes inspirados pela BD.