domingo, junho 10, 2007

30 de Outubro de 2004

Viseu, abram alas!

O Rui Brito vem-me buscar a casa, pelas 8h45m.Estou com uma directa de insónias em cima, mas nesta fase nem estou mal, depois do duche. Seguimos para o Campo Grande, até ao hotel do Alvarez Rabo.
No átrio estão umas modelos a debater o trabalho. Mal o Rabo desce, trocamos um grande abraço e sorrisos cúmplices. O Rabo dá-me a segunda parte dos “Consejos Sexuales de Alvarez Rabo” (53% inédito) e eu retribuo com o último livro do Luís Afonso, especialmente autografado para o Rabo. O Rabo não conhece o Luís Afonso. Fico satisfeito por poder divulgar um dos nossos maiores nomes.
O trânsito está muito mau. Chove. Pomos o Rabo a par das últimas de Viseu e das tentativas de boicotar o livro. O Rabo entra em contacto com a rádio para onde faz crónicas.
Chegamos a Viseu em cima das 14 horas e almoçamos na “Congolesa”, que tem a atenção de custear a refeição aos escritores malditos.

14.45m - Marchamos decididos para dentro das Galerias Ícaro. Ficamos no átrio em frente à Livraria Polvo. A Comunicação Social (JN, Público, CM, SIC e órgãos da região de Viseu) cai em cima do Rabo, que defende veementemente a liberdade de expressão. Eu estou ao lado dele, com uma camisola de hóquei no gelo dos Calgary Flames. Tem lógica. Vou dar autógrafos no “De boas erecções está o Inferno cheio”. É tudo chama. Por baixo visto uma sweat-shirt comprada em Le Mans por um amigo meu, que ma ofereceu como presente de aniversário.
Vendo quatro livros. Quem compra, compra aos pares. Um dos compradores é já um amigo da livraria, que se estreia connosco (eu e o Rabo, claro) em sessões de autógrafos.
Quando acaba a sessão de autógrafos, vamos ver a livraria e tirar fotos. Sabemos que é um dia histórico e a malta da livraria de Viseu merece o nosso apoio, depois de estar a levar com uma cidade que ainda não decidiu se quer viver no século XIX ou no século XX.
Os contornos da tentativa de boicote ao livro são ainda mais sinistros do que eu pensava. É óbvio que somos vítimas do poder local. Instrumentalizaram a questão e vieram “marrar” logo com as “formiguinhas” que se dedicam à literatura com paixão. Em vez de uma medalha de mérito cultural por abrirmos a terceira livraria de Viseu, levamos com os tribunais. É bem!

22 horas - Chego ao jantar oficial e volante que se segue aos prémios do FIBDA (Festival Internacional de BD da Amadora, já tinha dito, não tinha?). Estou a modos que a flutuar, com a “directa”. Tudo me parece um bocado cinzento. Mas a malta da BD é fixe e ninguém estranha que eu vista uma camisola de hóquei sobre o gelo. Querem saber que tal correram as coisas em Viseu. Toda a gente acha que a publicidade que nos estão a fazer é coisa a valorizar.
Opto por comer bacalhau com natas e avio dois pratos.
A moral está mais animadita com os dois prémios para a POLVO: melhor álbum e melhor desenho para o Miguel Rocha, com “Beterraba, a vida numa colher”. Devia ser um dia de profunda alegria para a malta da POLVO. Sessão de autógrafos em Viseu, prémios na Amadora. Mas o desgaste físico e psicológico deixa marcas.

23.15h – O Rui faz-se outra vez à estrada. Vamos à Sobreda da Caparica, buscar os novos livros do Rabo (Anal-fabetos), que têm de estar disponíveis para autógrafos no dia seguinte.
Eu olho para os cruzamentos e parecem-me todos iguais. Chove. A “directa” está agora a massacrar-me. Só penso em ir para a cama. A minha voz está grave. O cansaço acalma-me os nervos. Sinto as olheiras a gritar cactos de desânimo.
Ao bater da meia-noite o Rui deixa-me em casa. Leio-lhe uns poemas bem comportados que tinha levado para Viseu. Um deles, “Young at heart”, é um hino à liberdade de expressão. Acabei por não o declamar em Viseu, porque não havia clima para isso. Não havia ninguém a insultar-nos, por isso não valeu a pena.
Ele fica espantado com o registo tão diferente dos poemas do “De boas erecções está o Inferno cheio”.

00h15m – Recebo o primeiro telefonema a felicitar-me pelo meu aniversário. É uma amiga da Comunidade de Leitores. Conto-lhes as nossas desventuras.
Tomo um pouco de chá. Não sei se vomite ou não. É do bacalhau ou da exaustão?
Vou para a cama pelas 2 da manhã. Para mim é muito cedo.

2 Comments:

Blogger Inês Ramos said...

Bem... como o tempo passa... Estes textos foram escritos em 2004! Neste momento, estamos em Junho de 2007 e já lançaste outra edição do "De Boas Erecções está o Inferno Cheio", desta vez, King Kong Size...

6:06 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Pois passa. E o que estranhamos é a forma como as coisas mudam.
Entre as duas edições, um mundo de mudanças já passou pela minha vida literária e profissional.
E as notícias que vêm de Viseu cada vez me deixam mais de pé atrás com a cidade.

7:16 da tarde  

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