segunda-feira, junho 18, 2007

31 de Outubro de 2004

Faço anos no Dia das Bruxas!

05h10m - Acordo abruptamente. Tenho sede. Bebo um gole de água. Olho para o relógio. Fico abatido, mas nem por isso muito surpreendido. É assim com os esgotamentos. Sobe a criatividade, diminuem a capacidade de dormir, a atenção, a concentração, a memória. Aumenta a irritabilidade, ficamos hipersensíveis, com as emoções à flor da pele.
Dormi três horas, a seguir a uma “directa”!
Ponho-me a ler os jornais, um bocadinho.
Tento dormir outra vez. Fico na cama mais umas horas, para descansar os músculos.
Saio da cama, estou cheio de fome. Como vários iogurtes. Depois levo o material de banho para o Holmes Place. Antes disso compro os jornais todos a triplicar na loja de conveniência. Para mim, para o Rui Brito e para o Rabo.

Nem dei pela mudança da hora! Chego com 40 minutos de avanço ao Holmes e não posso entrar, claro. Há mais gente enganada, que vai dar uma volta. Eu fico sentado num pequeno pilar de cimento, a ver as notícias sobre o Rabo. A mais bem escrita é a do JN, com texto e fotos de Rui Bondoso.

10h15m - Ponho-me a nadar na piscina e encontro um amigo, a quem conto as aventuras e desventuras do dia anterior. Faço jacuzzi e sauna. Volto a casa e resolvo tirar fotocópias aos jornais. Para afixar na banca da POLVO, a fazer publicidade ao prémio do Miguel Rocha e a alertar para o facto do Rabo dar autógrafos da parte da tarde, na Amadora.
À conta das fotocópias só vejo a última volta do último Moto GP da temporada. O Rossi é mesmo o maior! Encerrou a época em beleza!

14 horas - Apanho o Rabo e os outros autores na “Taverna do Visconde”, na Amadora, onde somos sempre bem tratados. Como umas lulas porreiras e falho o cabrito porque a malta toda está já a sair. É importante dar apoio ao Rabo. No dia dos meus anos estou de oficial de dia ao Rabo.
Na zona dos autógrafos está um calor dos diabos e não há rede.
O Rabo fica a tarde toda a dar-lhe com intensidade. O Rui Brito vai controlando a situação, com viagens frequentes entre o stand da Polvo e a zona dos autógrafos.
A minha prima Xana vem dar-me os parabéns. Oferece-me uma T-shirt com uma frase do Damião de Góis, um CD do Birelli Lagrènne (que vi há muitos anos no Franco-Português) e “Os 50 poemas do amor furtivo”, com introdução e versões do poeta Jorge de Sousa Braga, um dos meus ídolos, que ainda não calhou conhecer pessoalmente.
À noite vamos ao jantar-volante do auditório da Câmara Municipal da Amadora, onde tudo começou para a BD há uns 17 anos e onde conheci o grande Morris, do Lucky Luke, numa sessão com uns 30 amantes de BD.
Finalmente, começam a chover telefonemas de aniversário. Malta a queixar-de de não conseguir falar-me. Explico-me com a falta de rede. Quando dou por mim, quase não há comida. Vingo-me com cinco fatias de bola de carne, por acaso porreira. E no tintol alentejano de boa escolha.

Sento-me na escadaria, com o Derradé, a Luísa Louro, quem calha. Não estou com “directa” em cima, mas mesmo assim já se nota o cansaço. E a consciência tranquila do dever cumprido, na dupla missão de amigo e anfitrião do Rabo.
Dou-lhe um exemplar autografado da obra de homenagem ao Teixeira de Pascoaes, pelos escritores da Tertúlia Rio de Prata e convidados. O meu poema chama-se “A montanha mágica”. É um livro fresquinho, acabadinho de sair. O Rabo é o primeiro a recebê-lo.
Despeço-me do Rabo, que me aconselha a dormir.
— Olha lá, mas tu achas que eu colecciono esgotamentos? Achas que é voluntário?
O Rabo sorri. Lançámos mais uma pequena âncora na nossa amizade, nascida há precisamente um ano, na “Taverna do Visconde”.
Saio com o Rui Brito, que me recebe na casa dele e me oferece chá de hortelã, bolo de iogurte e aletria doce. O Rui está estoirado e adormece ao vivo e em directo.
Acorda para me levar a casa.