terça-feira, dezembro 25, 2007

8 de Dezembro de 2004

Viva o hóquei do Cambra!

16 horas - Toca o despertador. É um alívio não ter o pessoal do escritório a martelar-me a cabeça. Estes feriados a meio da semana sabem bem. Fico mais um bocado na cama, a sonhar acordado que estou abraçado a uma gaja boa e meiguinha. Passados 45 minutos acendo a luz, tiro os tampões dos ouvidos. Leio A BOLA e constato que o jogo de hóquei entre o Benfica e a Académica de Cambra começa às 18 horas. Pensava que era às 21.
Nem banho tomei. Foi comer a correr e ir até à Luz. Quando cheguei o jogo estava com três minutos e o Benfica já estava a levar na ripa. A Académica de Cambra trouxe uma claque de umas 80 pessoas e ainda acreditou que a vitória não fugia, pois os amarelo-e-pretos estiveram a ganhar por 3-1 e 4-2. Mas as barracadas do keeper e algumas más opções de José Fernandes, somadas a alguma sorte por parte do Benfica, lá deram o empate a quatro. O meu Sporting estava a perder por 1-0 em Gulpilhares e o FC Porto ganhou 4-3 à Oliveirense a 9 segundos do fim.
Na FNAC Colombo comprei o DVD da “Cidade de Deus”, que não chegava aos 13 euros e é um grande filme. Encontro o Abel Barros Baptista, que não se deixou convencer disso.
Janto no Pasta Caffé do Saldanha. À minha frente janta um casal. Ele um latagão de cabelos grisalhos e ar fleumático, praticamente todo o tempo calado e a olhar para o ecrã do telemóvel. Ela uma trintona de jet-set, pinta de cigana, estilo Carmen. Morena, brincos grandes nas orelhas, cabelo preto encaracolado, um sorriso bonito, um olhar penetrante. Uma pantera na cama. Nem vale a pena perguntar ao Boavista.
Passou o tempo todo a dar música ao cavalheiro.
“Gosto da aventura. O trabalho não me dá tusa. Os pretos é que dão. Ou nem é isso. Homens árabes. Quero um homem que goste de mim pelo que sou, não pelo que tenho. Não tenho nada de jeito. O dinheiro vai e vem. Mas a avó diz que você vai ‘tar sempre na minha vida”.
O latagão de pullover Ashworth continua imperturbável a olhar para o telemóvel. E ela a fazer-lhe a cabeça lenta e sincopadamente, com a voz sensual e o olhar a esbarrar no pullover do gajo.
“Preciso de sol na minha vida. O Brasil é muito longe. Gosto mais dos espanhóis. Você, quando me viu a primeira vez, pensou o quê? Eu ‘tava com o cabelo mais curto. E o resto, ‘tá igual?”.
Depois a conversa desmarcou-se para as metáforas cavalares. Nada de zoofilia, novamente (é verdade, comprei um DVD com zoofilia cavalar, mas aquilo é chato à brava. Afinal aqueles DVD de zoofilia de produção holandesa são feitos por húngaras).
“Eu cavalo ressabiado é um cavalo que não gosta de ser montado”.
(por acaso ela dizia ressaibiado)
“Não gosto que mandem em mim. Ele é meu patrão, mas as ordens dele “é” uma chatice. Não gosto de receber ordens, mas preciso das pessoas”.
Dos cavalos a sério para os cavalos automóveis?
“Você tem um descapotável? Você tem confiança em mim? Acha que eu era boa secretária?”.
Pedem café. Eu peço um lemoncello. Quero saber como aquilo acaba.
“Não posso já, já, já. Quando é que quer? Diga quando é que quer. Seja explícito. Isso é para quando? Já Janeiro? Em Janeiro ainda não tenho a minha casa vendida”.
O gajo fala. Pouco, mas fala.
E ela: “Mas é para quantos de Janeiro? Diga. É a segunda vez que me ‘tá a propor uma coisa boa. Mas o que é que eu fazia lá, mais ou menos?”
Ele: “O que fosse preciso”.
Perco um bocado da conversa com os barulhos.
“A casa é uma chatice. É como o outro. Posso ter tudo num hotel. Desde que tenha uma boa fechadura. Não me importo nada. Posso fazer tudo desde que tenha a minha vida organizada”.
E saíram. Ela de casaco de peles cinzento. Eu fui até ao Galeto. E depois vim para casa escrever o diário. São 5 horas e 3 minutos.