domingo, março 30, 2008

25 Dezembro de 2004

Pornografia natalícia
e bingo do Belenenses


Almoço em família.

20h30m - Felicito uma amiga aniversariante, na sua casa. Ofereço um “Fadas Láureas” autografado.

00h10m - No Canal 18 transmitem pornografia. É um sábado normal, afinal de contas. Vou dar voltas à Gulbenkian.

01h30m - Regresso a casa. No quarteirão do Galeto vão a passar duas miúgas giras e bem arreadas, com sotaque brasileiro. Call girls a caminho do bingo? Sigo-as.
Vão mesmo ao bingo. Fico no átrio a ouvir a conversa. Não tiro conclusões. São as duas meiguinhas e bonitas. Uma loira, outra morena. As portas abrem-se. Vou atrás. A sala está cheia, umas 250 ou 300 pessoas.
Elas sentam-se na primeira mesa. Há uma cadeira vazia. Sento-me na mesma mesa.

03h - Saio do bingo, sem ganhar nada. Ao lado da minha mesa, um sujeito e a namorada fazem seis bingos durante a noite.

domingo, março 23, 2008

23 Dezembro de 2004

Shower Dance com a Kátia

Ponho o despertador para as 16 e 33, mas acordo antes. O Rui vem às 18 ver o CPU do computador. Vou nadar para o Holmes.
Levamos o CPU à Triudus de Alvalade. Fontes de alimentação é que não há. Vamos alimentar-nos depois para o Galeto. Começo a ficar fatalista em relação ao computador.

23h30m - Despeço-me do Rui. Dou duas voltas à Gulbenkian para desmoer a carne de porco à portuguesa e as quatro águas Fastio.

24h - Salta-me a “tampa” e resolvo atravessar o Parque Eduardo VII outra vez, ao lado do jardim Amália Rodrigues. Não escondo nada. Fica tudo nos bolsos. Tenho umas luvas de esqui dadas pela minha prima Guida, porreiras para a “batatada”. Estou com um insólito espírito de “venham eles”.
Ninguém à vista. Na Artilharia Um há três putas. Ao todo, na zona, apenas 10. Pergunto o preço dos “beijinhos”:
— São 15 euros.
— E quanto tempo é no quarto?
— O que levar a despachar-se.
— Faz sexo anal?
— Não.
— Muito obrigado. Boas Festas.
— Obrigada. Igualmente.

00h30m - Atravesso o Parque de volta, na zona mais escura. Dou uma segunda hipótese de me assaltarem. Estou bem disposto, mas apetece-me estalo. Não sou nada eu. Sinto-me rápido e perigoso.
Nada. Só dois paneleiros perto da estátua do Cutileiro.

01h - Chego a casa. Mudo de roupa. Levo 150 euros para o Photus. Vou de gel “Carpe Diem” e perfume “Dimitri”.

02h - Chego ao Photus. Dou as “Erecções” ao Flávio, o man da porta. Deixo mais um livro para o dono, o Vítor Trindade, que me agradeceu mais tarde, quando nos encontrámos. Começo por beber Bacardi Cola. Depois passei para o Bacardi Limon.

03h - Faço “Erotic Show” com a paulista Mary. É na cama, em vez de na cadeira. São mais 5 euros. O Photus está tipo estádio de futebol na festa de natal. Uns 200 tipos lá dentro. É table dances por todo o lado. Um gajo nem sabe para onde olhar.
Fico magnetizado por uma loura da Roménia, a Valentina, que não tira a tanga. Mais tarde sei que é por causa dos convites não darem direito a strip integral. As tables estão de “atar e pôr ao fumeiro”, duram uns 5 minutos. As strippers não têm tempo de respirar.
A Mary já está muito cansada. Nem se lembrava muito bem que tinha estado no Cabaret da Coxa no mesmo dia que eu. É muito querida e pede desculpa por não me conseguir dar mais atenção. Nas costas tem um índio tatuado.
Está em Portugal há seis anos e a carrinha do “Passerelle” tinha a sua foto, em tamanho grande. Mas depois tirararam, porque a Polícia multava. A foto não deixava ver o interior da carrinha.

03h15m - Volto à sala. Encontro o Mesquita, que era do kick-boxing do Sporting. Falamos dos combates do Fernando Fernandes no Arena. Passado um bocado chegam o Quaresma (FC Porto) e o Manuel Fernandes (Benfica). Ficam sentados com o Mesquita. Distribuo “bacalhaus” e agradeço ao Quaresma o último golo no antigo estádio do Sporting. Desejei-lhe um bom 2005 a nível pessoal e as maiores infelicidades futebolísticas para o FC Porto.

03h45m - Sento-me a uma mesa com um tipo simpático. Peço a shower com a Valentina. Ela não faz shower. A Mary também não faz Contact Dance, porque há clientes que são pegajosos.

04h30m - Vou para a Shower Dance com a Kátia, lisboeta de ascendência angolana.
Dispo-me e visto-me no WC, mas não há cabides. É na base do desenrascanço lusitano. Penduro a camisa numa torneira, as calças numa argola do poliban, meto as meias no bolso das calças. Visto o macacão azul de astronauta/jardineiro e espero pela Kátia no corredor.
Lá vamos para o chuveiro. Ela pediu-me para não lhe passar com a esponja na barriga, porque tem um piercing muito recente. A ensaboadela decorre ao ritmo da música. A miúda é simpática, mas o ritmo é ultraveloz. A noite não está nada alentejana.
Volto ao WC. Seco-me e visto-me. Não há secador e existe apenas uma toalha para os clientes todos. No chão há um sacalhão com um pó branco lá dentro. Fico intrigado. Para cocaína ou heroína é demasiado produto. Tem para aí uns 15 quilos. Ponho-me de cócoras. Será cimento de cor branca? Leio as palavras por fora do saco. Mas aquilo está em várias línguas. Lá descubro a solução do mistério: “pasta de agarre para juntas”. Parece que é para afagar os solos e juntar as placas. Soube mais tarde, por quem percebe do assunto.

05h10m - Saio. A conta é de 94 euros.

06h04m - Estão 5 graus. Ainda há cinco putas pedestres e uma auto-puta à volta do Técnico.

06h30m - Entro na pastelaria “Flor das Avenidas”. Tomo uma água das Pedras.

06h40m - Não me apetece sofrer, para saber se durmo. Tomo dois kainevers. É um último esforço por este diário.

domingo, março 16, 2008

22 Dezembro de 2004

Amor entre mulheres no “Nocturno 76”

Acordo pelas 14 e picos. Dormi sem “bombas”. Nado no Holmes, almoço e depois vou de comboio até Queluz, ver o basquetebol. Assisti a uma vitória histórica do Queluz sobre os israelitas. O meu amigo Rui telefona-me a combinar a mudança da fonte de alimentação do computador.
Apanho boleia com o Barros, do Record, e ainda vou à Luz assistir ao hóquei, entre o Benfica e o Paço D’Arcos (7-4), para a Taça de Portugal.

22h40m - Janto na Catedral da Cerveja. Só quando me levanto reparo que tem vista para o estádio! Estou bonito, estou! Descubro que 80 por cento dos empregados da Catedral são do Sporting!

23h45m - Estou na Worten do Colombo. Na zona dos DVD porno, o Frota ocupa praticamente todo o escaparate. Com dois filmes. Mais tarde há-de chegar o “Obsessão”. Até aqui Portugal não tinha frota de jeito. Mas este Frota chegou e venceu. Que pensará disto o Paulo Portas, que sempre lutou pela dignificação da frota portuguesa?

23h50m - Encontro outro amigo chamado Barros, à porta da FNAC. Dá-me o conselho de me despachar. Afinal a loja só fechava à 1 da matina. Horário de Natal. Compro um DVD dos Deep Purple como presente de Natal para o meu primo “Palhinhas”, “O perfume” para o meu primo Helmut se habituar a ler em português e um “Underground” do Kusturica.
Pergunto pelas minhas “Erecções”. Já acabou o “stock”. Quantas tinham? Mistério. Não estava no computador. Eu bem tento caçar as minhas “Erecções”, mas está visto que é uma espécie de culto em vias de extinção.

00h25m - Saio do Metro em S. Sebastião e tomo o caminho de casa. Passo em frente do “Nocturno 76”. Olha, é mesmo agora! Ando para trás um bocado, saco 100 euros do multibanco e lá vou eu!
Peço um Drambuie com duas pedras de gelo (15 euros, o preço do consumo mínimo) e sento-me num óptimo lugar. Coxia lateral, de frente para o DJ e vista para o pequeno palco espelhado, que terá 2 metros e meio de altura por quatro metros, medidos a olhómetro.
Mais pequeno que um tubarão branco. Talvez por isso as meninas se mexam devagar, como se o Manoel de Oliveira lhes treinasse os strips. Só duram uma música, por isso vão dos 3 minutos e meio até aos 5 minutos, no máximo. As peças de roupa saem devagar, mas há muito pouco para tirar.
A Anita (brasileira de S. Paulo) está no palco. É uma morena de fogo, sorriso largo e corpo de pecado, com bumbum que só não roça a perfeição porque é feio as pessoas roçarem-se.
Gostei. Fico logo com vontade de pedir uma Private a 40 euros. Mas contenho-me. Estou ali para observar o que mudou no “Nocturno 76”, onde me divertia em grupo de amigos, há uns 15 anos.
De 15 em 15 minutos sobe ao palco uma stripper. Vêm a Alex e a Tina (Letónia), que são irmãs. A Alex chegou primeiro a Portugal e depois veio a Tina, que grama bué o marisco português e o clima. A Salomé, checa matulona de formas voluptuosas, é a mais divertida e expansiva de todas. É anunciada pelo DJ como “artista”, na altura de subir ao palco. Corrige-o de imediato:
— Magnífica artista!

1h15m - Acabo o meu Drambuie. Bem… é para a desgraça, é para a desgraça! Peço desculpa à minha úlcera, mamo um Compensan e vou buscar um Bacardi Cola.

1h30m - Vem ter comigo uma romena. Chama-se Laura, está em Portugal há dois anos e praticamente só conhece Lisboa. Passados 20 minutos de conversa tenta cravar-me uma bebida. Ao invés, dou-lhe uma rosa de 5 euros, muito manhosa, vendida por um “kerfrô” sniper. Aquilo é um murchanço maior do que o meu no Peep-show. Laura aceita a rosa com ar de resignação. Nasceu perto da Hungria. Falamos do Drácula, da rota dos Cárpatos, do Hagi. A chavala já lhe dá uns 55 anos. Porra para a menina. Velho já eu me sinto!

02h - A brasileira Lady está mesmo à minha frente, sentada com um gajo possuidor do “mais bom aspecto” da noite. É cliente de garrafa, charmoso, sedutor. A menina pede um cocktail. E ele para o empregado:
— Não tem Água das Pedras?
Depois sugeriu “água del cano”.
E a menina:
— Só posso beber cocktails.
E ele:
— Então e não é cocktail? Tem oxigénio e hidrogénio!
Lá acaba por pagar a bebida e esteve mais de duas horas com a Lady. Despede-se com dois beijinhos na face. Um verdadeiro cavalheiro, bem disposto e civilizado. O sonho de qualquer clube de strip.

02h25m - Começa a segunda volta das strippers, com a Anita. Usa muito o branco, para contrastar com a sua deliciosa mulatinagem. Os collants brancos não chegam a sair das suas pernas longas e bem torneadas. Se bem me lembro, dançou um “hit” do João Pedro Pais. As músicas escolhidas falam sempre de amor, os olhos delas sugerem sempre sexo, os corpos sabem a pecado, os clientes sonham. A vida é mesmo assim.
Marco um Private com ela. Não sei que saída está a ter. O chato do meu lugar é que não vejo bem a sala. Gostava de ver melhor o ambiente.

Lá vou para o Private. Ela toma-me a mão e pergunta-me o nome. Entramos para uma cabina pequena.
— Quer que me ponha no meio, não é?
— Sim. Quer a outra cabina, que é maior?
— Eu quero o que a Anita preferir.
(Anita! Anita! Anita! dizia o anúncio do detergente)
Ela leva-me para a cabina do lado. Sento-me no meio de um sofá confortável, em forma de ferradura, com cerca de metro e meio. Nos bolsos tenho uma carteira da Playboy (com menos cartões do que a carteira titular, que é um verdadeiro tijolo), telemóvel, chaves, protector labial contra o frio, lenço, Compensan. Ela topa o volume e manda-me tirar tudo. Dá-se um pequeno toque querido no Luisinho.
— Isto não tira.
— Pois é, às vezes faz falta.
Anita monta-se no meu colo. Tem um estilo de Private diferente. Não faz a coreografia com aqueles exercícios obrigatórios da Roçagagem Artística. Prefere promover um contacto mais próximo. Abraça-me. Coloca os meus braços à sua volta. Abraço-a.

Digo que o meu pai nasceu em Manaus. Ela fica interessada e vamos falando. Acha que sou um cliente diferente. Muito simpático. Acho que não é música. Naquela altura era mesmo o que ela pensava. Digo que os Escorpiões são assim, simpáticos e tímidos. Ela não me achou nada tímido. Garanto-lhe que sou. A extroversão não implica ausência de timidez. É um complemento. A minha costela teatral e a estaleca do jornalismo é que disfarçam muitas vezes a timidez.
Cola o seu rosto ao meu. Deve ter aspirado o perfume “Dimitri” da minha barba. Toca com o seu nariz no meu, tipo esquimó. Arrisco viagem manual até aos seus mamilos. Erectam-se quase automaticamente. Abençoados trópicos calientes do Brasil!
— De que clube é?
— Flamengo.
— Flamengo, uma paulista? Sua traidora!
— Pois é.
— Eu sou do Sporting.
— Em Portugal sou do Benfica.
— Olhe, venho de lá agora!

Vira-se de costas. Gira o bumbum no meu Luisinho. Os dedos tocam nele ao de leve. Continuo de calças de bombazina. É uma pena. Anita confessa-me que também é Escorpião, de 21 de Novembro.
Ah! Por isso o magnetismo foi automático.

(Deves ser é parvo. A gaja era boa todos os dias, essa é que é essa)
(Quem está aí?)
(É o Dick Hard, ó estúpido!)
(Sai daqui, meu!)

A Private acaba abruptamente. Ela agradece-me.
— Muito obrigada. Você levantou mesmo o meu astral. Hoje estava um pouco assim, sabe… você deu-me tanta energia positiva…

(É música, meu. Deste foi 40 euricos)
(Cala-te, Dick. Nem sempre é música)

— Gostava de continuar a falar com você. Mas agora tenho de ir ter com um amigo. Pode esperar?
— Posso. Mas aviso já que não lhe vou pagar cocktails. Já estou nos limites do meu orçamento de jornalista.
— Não faz mal. Apreciei a sinceridade. Depois vou ter consigo. Obrigada mesmo.
— Obrigado eu.
A Anita vai-se vestir e volta à sala com outro vestido branco, coleante. Realmente o branco é o que lhe cai melhor.

03h - No palco continuam a Jennifer brasileira, a Lady brasileira, a Salomé checa, a Tina da Letónia, a Alex da Letónia. Não me lembro de ter visto a Laura da Roménia.
É mais normal as brasileiras falarem umas com as outras, mas parece que o ambiente global é bom e as de leste falam com as brasileiras. Em português. O inglês não é usado.

04h15m - A Anita não volta. Já bebi três águas Castelo, em homenagem ao avô Ayres Nunes, marujo de mulheres várias, uísques muitos, cigarros Sagres e uns olhos cinzentos que diziam sim ao mundo todos os dias.
Um dia faltou-lhe o ar e desistiu sem avisar, como diria o Neves de Sousa.
Chorei três lágrimas na varanda, com vista para as nespereiras, senti o peito a desfazer-se em puzzles, depois sorri por dentro e fiquei com a alma cheia de tesouros, para recordar eternamente.

— Ó macaco! Então nas strippers? Lembra-te: nunca vás às putas sem ter um limão para pôr na sarda depois. Espreme lá para dentro. Vais ver que o limão arde, mas safa-te de chatices. Foi um conselho que me deram e resultou. E não abuses das punhetas!
— Ó avô! Eu não bato punhetas nem ando nas putas!

Cuidado com os idos de Dezembro/1980, diria o áugure a Júlio César. Numa quinzena, morreram o meu avô, o vizinho Presas, o Sá Carneiro e o John Lennon.
É também por isso que vou aos clubes de strip. Para fugir da morte. A beleza dos corpos e a música que me faz bater o pé e abana o capacete são aspirinas contra a morte.
Vou dar um abraço ao DJ, um ex-viola baixo da banda residente que já não existe no “Nocturno”. É todo ele 1 metro e 90 de magreza e fraternidade.

— São 28 anos de casa!
— Já merecia uma medalha!
— Já tenho! Já tenho!

04h30m - A Anita não volta mesmo. Está a trabalhar o “amigo”, que lhe vai pagando cocktails. Eu levantei-lhe o astral, ela vai baixando o saldo bancário do “amigo”.
As outras strippers não me abordam. Já perceberam que o Barba-Branca não paga copos. É mais de jogar ao king e gritar desalmadamente:
— Oito ou nulos!
Como elas não me dão oito (fodas, beijinhos, boas histórias, sorrisos, o que quiserem) vou para nulos.

Os amigos que me acompanhavam ao “Nocturno” há 15 anos também jogavam para nulos com elas.
— Posso tomar uma bebida com vocês?
— À vontade. Podes servir-te da nossa garrafa.
— Não posso beber uísque. Só cocktails.
— Então é pena, estamos numa de uísque.
Muito cocktail beberam os vasos das plantas, quando o “Nocturno” tinha strip e alterne. Os construtores civis já bem bebidos olhavam para o lado e lá ia champanhe para o vaso. E depois vinham mais garrafas. Mas as meninas eram quase todas portuguesas e o strip era muito mais cuidado.
Lembro-me dos strips do Queen’s, ali ao Rego.
A Lady Vampirella que fazia strip dentro de uma ostra que abria e fechava! (E mesmo assim não conseguia comer a gaja)
A Arlette Fiorano que entrou em palco toda nua e acabou completamente vestida!
No “Nocturno 76” lembro-me de ume pequenina loira, de seios tenros, de nome Joana, que ficou a falar comigo. Eu fazia colecção dos autógrafos delas em bases de copos.
Eram noites fraternas.
Às vezes, lá vinha uma tentativa de “garruço”, como no “Coche Real”, às portas de Benfica, há uns 20 anos.

— Que conta é esta? 24 contos?
— Pois. São três garrafas de uísque.
— Mas cada garrafa é a 7 contos. Ora, 3 vezes 7 são 21.
— Certo. Mas e as senhoras?
— As senhoras? — perguntou o mais atrevido do grupo, que depois meteu os forros dos bolsos para fora.
— Ó rapaziada, vejam lá se levam alguma senhora no bolso, por engano. Eu bebi uísque, não bebi senhoras.
— Está certo. Mas… e a companhia?
— Qual delas? A Fidelidade? A Bonança? Companhia tenho eu com as minhas namoradas.
Bem, a coisa foi azedando um coche.Um coche real. De repente, dois amigos do nosso grupo sacam do cartão de sócio da PJ e a matemática voltou a ser uma batata. 3x7 igual a 21 e noves fora nada.
— Eh! Pá, vocês deixaram-me mal, que eu sou amigo do homem! — disse um gajo do grupo para o pessoal, já em plena madrugada das portas de Benfica.
— Ah! Este artista das contas é teu amigo! Hás-de arranjar-me mais amigos destes, que eu tenho montes de notas nos bolsos e não sei o que lhes hei-de fazer.
Para trás tinham ficado Dulce Guimarães e o seu grupo de lambada. E um voo picado do Totó em direcção ao órgão eléctrico, agarrado in extremis por um de nós, pela aba do casaco. Em cada noitada havia sempre um ou dois bêbedos de serviço e um piquete de dez ou doze amigos para tomar conta da situação. Até eu usei o WC do “Nocturno 76” como vomitorium, à boa moda romana. O Carlos Xeque-Mate foi lá ver como eu estava.
— Estás bem?
— Estou. É só despejar e já volto. Estava a ver duas strippers iguais lado a lado.
— Tens a certeza?
— Tenho a certeza de que vou ficar bem. Quanto às strippers, é capaz de ser apenas uma.
— Bem, vê lá…
Vi lá. E voltei à sala. Diz o Toninho, já informado dos últimos acontecimentos:
— Por acaso estava a achar o teu ritmo estranho, a beber de urgência. Tu nem gostas muito de uísque.
— É este clima de pecado que me obriga a beber para esquecer.

04h45m - Últimos strips. Acabo a água Castelo. A Anita continua no mesmo grupo de amigos. Mudo de poiso, para ficar a ver tudo de frente. Perdi a esperança de que viesse falar comigo. Mas o seu terceiro strip foi deslumbrante. Um vestido branco, com flores verdes, ao som de Dulce Pontes, a cantar um dos maiores clássicos de Amália.Até me arrepiei. E o barman não resistiu a cantar um pouco.

04h50m - A Anita e a Jennifer são pagas para fazer duas table dances com duas clientes brasileiras que estavam com o grupo de amigos. As brasileiras não são habitués da casa. O DJ nunca as tinha visto. Aquilo foi mesmo de surpresa, que sabe melhor mas pode fazer mal ao coração.
Os quatro amigos, algo anafados, já bem bebidos, preparam-se para gozar o prato. As amigas brasileiras estão sentadas no sofá do canto da sala. Anita e Jennifer avançam, decididas e divertidas com a surpresa das clientes. Há uma nota de grande erotismo no ar, mesmo que nenhuma das quatro brasileiras em acção revele particulares tendências lésbicas.
O show decorre num ambiente intimista.Praticamente já não há clientes para além deste grupo. Salta-me a “tampa”. Avanço para uma cadeira mais próxima, sem pudores de observar. Não é o sexo que está em causa. É a malícia da situação, o jogo. Algo como misturar uma Guiness com uma Heineken.
A deliciosa “mélange” entre as “Ligações Perigosas” de Choderlos de Laclos, um filme porno com cenas lésbicas, uma comédia estilo “American Pie” e um relato extraído do “Satíricon” de Petrónio, que li nos meus 15 anos.
Não tenho nenhuma erecção, mas a sensualidade que paira no ar põe-me o coração a bater ao ritmo do Animal, dos Marretas. Aquilo dura-me o show todo. Não me salta pela boca porque estou com os antebraços apoiados nas costas da cadeira e as duas faces do rosto agarradas pelas mãos, como se estivesse concentrado na leitura de um livro como “Auto de fé”, do nobelizado Elias Canetti.Em que se fala de xadrez e de Capablanaca.
Na sala, as pedras de xadrez estão distribuídas. Os quatro amigos observam, a sete metros de distância, impávidos e serenos. Eu estou a uns 15, ângulo bom.
Anita senta-se ao colo da menina mais bonita e reproduz os movimentos que faria com um homem. Se a fricção nas zonas baixas não redundará no mesmo efeito, o contacto com os seios da cliente produz grandes efeitos na obsequiada. Morde os lábios, vibra. Os olhos brilham. Está mais que curiosa, está excitada.
— Estão gostando, não é? — atira para os amigos que pagaram o show.

É isso que a atrai? Saber que o show lésbico é o sonho de muitos homens heterossexuais? Talvez. Mas ela está a adorar o trabalho delicado e profissional das strippers.
Por sua vez, as strippers estão a adorar o jogo. É uma coisa diferente. Querem provar que também sabem excitar as mulheres.
Anita põe a sua menina louca.
Jennifer provoca prazer na sua brasileira, mas ela não quer dar-se totalmente ao prazer que certamente está a sentir. Está embaraçada. Deve achar que a sua sexualidade pode ser posta em risco.
A meio dos dez minutos de show, Anita e Jennifer trocam de menina.
A brasileira que estava com Anita entrega-se logo. Toca na stripper. Arrisca. Jennifer abraça-a. Toca-lhe nos seios. Ela agarra a mão da stripper e coloca-a entre as suas pernas.
Os amigos topam o seu delírio e um deles exclama:
— Eh! Lá, ela não pode tocar!
— Não pode tocar? Não pode tocar é piano.
Mas as strippers continuavam a pianar o corpo bonito das clientes, que se mantêm totalmente vestidas. A menina mais desinibida continua a tentar avanços com Jennifer, que toca e foge. A cliente, totalmente no clima, acusa, meiga e maliciosamente:
— Côvardi! Côvardi!

O show acaba num clima de grande cumplicidade, com as meninas a trocarem beijinhos com as strippers. Agradecem umas às outras.
Já há strippers a sair do clube. Outras ficam a conversar no bar, no primeiro andar. Vou para perto dos vestiários, para dar um beijinho de despedida a Anita. Ela sai dos vestiários e praticamente não me liga. Quase arrasta um cliente do grupo de amigos para uma Private Dance.
Vou pagar ao bar. A barwoman também é de S. Paulo. Cheia de jogo. Dou quatro notas de 20 para pagar 74.50 euros. Ela retira 50 cêntimos e avisa:
— Esta vai para o mealheiro, está bem?
Olho para o mealheiro gigante, de argila, dos antigos. Vou buscar o blusão ao bengaleiro. Faço um quatro com as pernas e meto mais dois euros e meio na ranhura. Ela ri-se.
— Eu já não faço isso.
Saio. Duas meninas saem de carro. As outras chamam táxis, parados na praça quase em frente do Nimas.

05h05m - Passa um autocarro 42 completamente vazio, a caminho da Ajuda. Encontro o meu amigo Mário, do Galeto. Faço-lhe companhia na paragem de autocarro.

05h25m - Uma volta ao Técnico. Ainda há três pérolas de ébano e duas brancas. Das pedestres. E mais três auto-putas. Uma é a D. Maria das válvulas desapertadas. Está a falar para um carro, com um casal de jovens. Por certo conhecidos. Não tinham pinta nenhuma de clientes:
— Era vira o disco e toca à vez… o bófia ‘tá nervoso…
Na Alves Redol, dois bêbados mijam na placa central. A puta que crava cigarros ao Tó-Zé avança e esconde-se na esquina. Também resiste ao frio.
Venho para casa. Escrevo o diário. Já tomei um kainever. Só para assegurar que vou dormir qualquer coisa. Amanhã (hoje) tenho a festa do Photus e a shower dance.
A seguir repouso, na Consoada e no Dia de Natal.
São 08h13m e tudo vai bem.

domingo, março 09, 2008

21 Dezembro de 2004

Quase nu no meio da rua

Faço mais uma “directa” involuntária, com insónias. Vou até à piscina do Holmes. Participo num simulacro de incêndio e saio para a rua de touca, calções de banho e chinelos. O pessoal levou aquilo um bocado na reinação e pouca gente se dispôs a ir até à esquina.
A seguir ao almoço ando à caça de “Erecções”, para que não faltem na última sessão de autógrafos. Consigo algumas. Na Bulhosa do Campo Grande compro o último livro de poesia do meu amigo Mexia. Fiquei muito atraído pelo poema “Nevermore”.
Vou até ao pingue-pongue do Inatel. Um dos meus colegas de grupo lê “A mãe” (do Gorki). Alguns dos meus smashes passam-lhe ao lado por pouco.
Está mesmo mergulhado na leitura. Venho a casa jantar, já todo flipado com a “directa”. Ainda vou juntar-me à Tertúlia BD no bar “Cem nomes”, na Rua da Rosa, um espaço muito simpático. Bebo um chá, como uma fatia de bolo e compro um livro: “Cidade do Strip”, (bem)escrito por uma ex-stripper americana.
O pessoal da Tertúlia BD notou a overdose de “Água Brava” no meu rosto. Riram-se à brava. Comprei um frasco na perfumaria ao lado da Bulhosa. Com a cabeça toda flipada, pus a colónia na barba como se fosse after-shave. Reflexo condicionado de há 20 anos.
Venho para casa de boleia com o António. Exagero a comer sortido húngaro e fico indisposto.

domingo, março 02, 2008

20 Dezembro de 2004

Computador K.O!

Vou para mais uma sessão de autógrafos no King. Vou jantar ao restaurante chinês e dou duas de conversa com o meu amigo José Eduardo Agualusa, que também tinha estado no King a ver um filme. O jantar com o meu amigo Gastão Salvado decorre a contento. Vimos a pé para minha casa. Ele vem confirmar o meu diagnóstico do computador. O CPU foi mesmo à vida. Venho depois a saber que um “pico de energia” (após algumas horas sem luz) me lixou a vida. Olha que porra, EDP!