segunda-feira, maio 28, 2007

28 de Outubro de 2004

Holmes Place: 100 visitas

Compareço pela 100ª vez no Holmes Place, desde que me inscrevi, em Fevereiro. Sou dos primeiros sócios a chegar às 100 presenças. Fico lixado por me ter esquecido de contabilizar a situação. Queria levar um bolo, de surpresa. Prometo festejar a efeméride em 11 de Novembro, dia de S. Martinho.
Com os sonos trocados e já em pleno vórtice de mais um esgotamento, esqueço-me da touca de banho e dos chinelos. Largo 7 euros por outra touca e tomo banho de peúgas.
Em vésperas de fim-de-semana prolongado, a hidroginástica estava muito sessão privada. Três mulheres e dois homens. O Carlos veio de automóvel do Porto, chegou a Lisboa 15 minutos antes e veio para a água. Aí, valente!
Eu faltei a um recital do Diogo Dória na Casa Fernando Pessoa, à mesma hora. Mas optei pela hidroginástica.

Falo com um editor da Oficina do Livro e avisam-me de que o registo humorístico não é o mais adequado para este livro. Boa malha! Ainda só tinha escrito 160 mil caracteres! Custa alguma coisa começar tudo de novo?
Por acaso até custa. De molde que este livro já não é da Oficina do Livro. Nesta altura do campeonato não faço ideia de quem o vai editar. Mas estou convicto de que ele vai sair.
À noite, vejo a Marisa Cruz no “Cabaret da Coxa” e o pessoal amigo do Gato Fedorento no “Homem que mordeu o cão”.
Telefono ao Rui Brito e combina-se a ida até Viseu, com o Rabo, para os autógrafos.

terça-feira, maio 22, 2007

25 de Outubro de 2004

O que é o sexo oral?

Artilharia Um e Adjacentes, 21 Técnico, 24
(putas de serviço nas respectivas zonas)

Foda-se! Caralho! Já não se pode ser bem educado. E a língua portuguesa está pelas ruas da amargura.
Andei hoje a perguntar preços de sexo oral ali na zona da Artilharia Um e liceu Maria Amália Vaz de Carvalho. E na Defensores de Chaves.
Parece que só conhecem o termo “beijinhos”. Olha que puta de situação! Um gajo quer ser bem educado e leva com um número destes!
Então na Volta a França é o delírio. Se os “beijinhos” são sexo oral, os ciclistas que sobem ao pódio levam com três broches de cada vez?
E se eu perguntar a uma puta quanto é o broche ela manda-me para uma ourivesaria? Só percebe “beijinhos”? Mas se me aparecer uma stripper num clube e me perguntar “posso dar-lhe um beijinho?”, sabem o que acontece se eu abrir a braguilha? Vou logo com os pigs! No “Maybe” até têm umas coisinhas de papel em cima das mesas a dizer que se infringirmos os regulamentos arriscamo-nos a uma saída rápida. Em português e inglês.
Nem pensem que eu estou a inventar. Vou começar pelo princípio.

01h da madrugada (já é dia 26, mas vocês sabem como é que isto funciona comigo. Antes de me deitar é sempre o dia anterior) - Um dos roteiros obrigatórios da noite lisboeta é na clássica Artilharia Um, onde as putas fazem fogo à vontade mesmo ao pé da casa do Jorgito. Sim, do Jorgito. Do Sampaio. Qual Sampaio? Não é o dos Bilhares Sampaio, olha que caralho! O Jorge Sampaio, o presidente de todos os portugueses. Bem, meu não é, que eu voto nulo desde 1983 e estou muito feliz com isso. Com o meu voto nunca! Não sou dos que dizem que eles são todos iguais. Isso seria impossível. Estão é a ficar cada vez mais estúpidos a cada dia que passa.
(EMBORA AÍ, CLASSE POLÍTICA, PROCESSEM-ME! SÓ UM, POR FAVOR! NECESSITO DE TODA A PUBLICIDADE. AVISO À NAVEGAÇÃO: TENHO AMIGOS DE INFÂNCIA NOS HOMICÍDIOS DA PJ, CASO SE LEMBREM DE EU TER UM ACIDENTE)
Bem, resolvo atravessar o Parque Eduardo VII, ao pé do jardim Amália Rodrigues, em frente ao super-caralho do Cutileiro, que se esporrava alegremente na noite lisboeta, a apontar o céu.

Disse-me um familiar que a noite ia ser de grande temporal, de modo que saí de casa de chapéu-de-chuva. Por acaso estava uma noite magnífica, mas um chapéu-de-chuva é maior do que uma naifa. Numa de atravessar o Parque à noite dá sempre jeito.
Mas como não sou um super-herói de poderes mágicos, se me aparecer um gandim e me meter um fogante na boca (“Olha, chupa aí um bocadinho e já agora passa para cá o telelé e outras coisas giras de que te lembres, tipo carteira, relógio e demais minudências e utilidades”) eu fico-me.
Então, lembrei-me: desliguei o telelé e meti nos boxers “Decameron” (não fui eu que escolhi a marca, deram-me, e até são confortáveis, o que é que foi, seus paneleiros e paneleiras, leitores da tanga), na zona do cu. O relógio da colecção Berardo do Tintim, que a minha prima me deu de presente de aniversário, foi para as adjacências do tomate direito. E o cartão multibanco para as adjacências do tomate esquerdo. Não fiquei lá muito confortável, mas dava para andar na boa.
Para me roubarem, tinham de me apalpar muito. E supondo que fosse uma assaltante, pelo menos teria algum prazer. No caso de ser um homem, quem sabe se não se procederia a um novo rumo na minha orientação sexual. Ou como dizia o meu amigo Marujo, quando lhe apalpavam a bilha na reinação: “Tens meia-hora para tirar daí a mão!”.
Já atravessei aquela zona do Parque, de madrugada, com o coração a bater ao ritmo da bateria de Acácio Salero, André Sousa Machado ou Cindy Blackman. Como estava imbuído de espírito de missão (se me assaltarem é pela literatura, não me posso cortar), estava estranhamente calmo. Calmo mas vigilante! Não, brincas! Parecia um camaleão a olhar para todo o lado, atento a todos os sons. E Lisboa tão linda, o céu tão suave, tão poético.
Chavais a atacar: um, para amostra. Passo ao lado do carro de um senhor de meia-idade, de boné de beisebol, a negociar com o chaval. Não chegam a acordo. Imagino que o homem pode fazer-se ao meu piso. O carro passa por mim lentamente. Ainda penso: vou fingir que também ando nisto e pedir 1000 euros. Se o homem se espantar, digo logo: é a minha primeira vez, o jornalismo está fodido, eu gosto de mulheres e além disso era a brincar.
O carro segue. Antes assim.

Na Rua D. Francisco Manuel de Melo está uma chavala portuguesa em alarido, a desabafar com o seu chulo. Não sei qual era o problema, mas ela estava chateada. Passo para a Artilharia Um. Tenho de caminhar debaixo de uns andaimes. Vejo uns pés na esquina. Gajo escondido para me fazer a folha? Preparo a carabina do coronel Clifton e avanço (o chapéu de chuva do coronel Clifton disparava uns 15 tiros, nas BDs da revista Tintim. Quem conhece, parabéns, muitas felicidades. Quanto aos putos estúpidos que só lêem Manga e Comics, vão levar na bilha, seus atrasados mentóis da pior espécie! Já basta o tempo que perdi a discutir o tema no site Centralcomics) Afinal era paneleiro. Um “arrebenta”, diz-se na gíria. Mas era um “arrebenta” com um ar infeliz.
Corto à esquerda e ouço duas putas da velha guarda a desabafar, com um ar tremendamente abatido: “Elas fazem beijinhos e é o que eles querem”. Concluo: estas não fazem broche. Só fodem. Recado ao Alvarez Rabo: estás a ver, Alfredo, afinal estas mulheres gostam de foder. Não gostam é de fazer broche. Broche é como quem diz: “beijinhos”.
A saga começou aqui, pela 1 e 10 da matina. Artilharia Um abaixo, só mais uma puta. Corto à esquerda e volto para cima.


1 e 15 - esquina ascendende do Maria Amália. Uma chavala mesmo gira conversa com uma puta da velha guarda.
“Ele era um rapazinho com um ar tão jeitoso, tive pena...”, dizia a miúda nova, que não tinha mesmo pinta de puta e é daquelas queridonas por quem um tipo se podia apaixonar. Queria ouvir a conversa, mas não dava para ficar ali a olhar para elas. Pensei: que truque vou usar para meter conversa, a ver o que dá, de forma espontânea?
Pus-me a mirar a frontaria do Maria Amália (mas antes da entrada, onde está escrito o nome), voltei para trás e disse-lhes:
— Desculpem, este é o liceu Maria Amália ou Maria Amélia?
E a chavalinha, muito solícita, muito simpática:
— É Maria Amália.
Insisto:
— E não tem outro nome?
A mais velha:
— Maria Amália Vaz de Carvalho.
— Então onde é que é o Maria Amélia?
— Em Alvalade.

Faço de conta que penso:
— É aquele ao pé da Eugénio dos Santos?
A mais nova:
— É uma transversal da Av. Roma.
— Estou bem longe. Confundi.

Dou boa-noite e sigo. Elas não meteram mais conversa. Se metessem, eu perguntava os preços, como quem não quer a coisa. Não deu, olha, não deu. Mas fico com a chavalinha bonita atravessada no cérebro.


1h30m - Subo. Um táxi dá a volta ao quarteirão. Duas putas na esquina. Portugas.
Puta 1 — Foda-se para o fogareiro, anda para aqui às voltas há que tempos!
Um gajo da stand-up comedy tem de saber aproveitar a deixa. Salto logo a terreiro para meter conversa:
— Se calhar anda a treinar para as 24 horas de Le Mans!
Puta 1 — Foda-se para o homem!
Eu (posso ser a Puta 3, se os leitores quiserem, para facilitar a leitura) – A pé também eu ando, mas gasto menos gasosa.
Puta 2 — Pois é, lá isso é verdade.
Puta 3 — Então boa-noite.
Puta 1 — Boa-noite.
Puta 2 — Tchau.

Mais umas voltas. Na rua Marquês da Subserra (grande nome para o filme “Massacre no Texas”, Vrrr,vrrr,vrrr) três putas estão sentadas no chão. Li uma vez no “Tal e Qual” que a zona estava com umas boazonas ucranianas e russas. Não dou por nada. Parece tudo português.


1h35m - Percebo que tenho de perder a timidez e perguntar preços. Vejo uma chavala com bom ar numa esquina (Av. Padre António Vieira? Não sei, por ali...) e “amando-me”:
— Boa-noite. Posso fazer uma pergunta.
Diz que sim com a cabeça.
Puta 3 — Quanto é o sexo oral?
Olha para mim como se eu tivesse dito que o Vítor Baía não dá frangos, o professor Martelo não gosta de intriga política e Portugal é um país sereno e de grande prosperidade.

Ela — “Beijinhos” ?...
Puta 3 (para os mais esquecidos, ainda sou eu) — Sim. Não sabia? Não se usa o termo aqui?
Ela (sorri) — Não. É “beijinhos”.
Tem um sotaque de mel. É uma brasileira pequenina, morena, de sorriso lindo, bem arranjada.
Puta 3 — E quanto são os “beijinhos”?
Ela — 20.
Puta 33 (ainda sou eu, mas gramava o Larry Bird, dos Celtics de Boston) — 20 euros?
Ela — Sim.
Sorrio. Muito obrigado, boa-noite. Ela sorri de volta.


1h37m — Continuo a subir. Resolvo comparar preços. Pergunto a uma pérola de ébano que está na esquina:
— Quanto é o sexo oral?
Ela: 15 euros.
Puta 99 (sou eu, em homenagem ao Wayne Gretzky, não tem nada a ver com o número do Baía, esse ganda frangueiro que levou com um sombrero do Poborsky no Euro-1996) — Muito obrigado.
Sigo.
Então, estão a ver: no espaço de um quarteirão o sexo oral diminuiu cinco euros. Relação curiosa: a rua sobe, o preço desce. Bem, a brasileira era bem mais gira, diga-se a verdade. Mas quem vê caras não vê bocas a trabalhar.
Corto à direita, já na avenida que desce paralela ao Parque, na rua onde o Lobo Antunes pôs a casa de um personagem. Creio que no “Manual dos Inquisidores”. Ou em “O esplendor de Portugal?”. Ai esta carola...


1h43m - Corto à direita no Meridien. Tem um Porsche prateado parado à porta que nem vos digo nem vos conto. Recuo dois passos, para ver o nome do modelo no cu do bichano. Olha, népias, nestum, néribi, niente. Atão isto é assim? Já não há nome do modelo no cu do animal? A tradição já não é o que era. Ó pessoal de Estugarda, vamos lá a atinar!
Um grupo de gajos a falar bem inglês (país de expressão inglesa, por certo) vem por ali abaixo, a regressar ao hotel, por certo. Três homens e uma senhora alta, trintas e tais.
Ela — Venha tomar uma bebida.
Ele — Não, obrigado.
Ela — Não quer mesmo tomar uma bebida agora?
Ele — Vamos ver como se porta amanhã.

Pistas para o leitor, fornecidas pelo idiota do Puta 22 (número do carro do Jacky Ickx que está no poster do meu quarto, um Ensign de 1976 ou 1977):
— A gaja querida foder com o chefe, para subir na carreira.
— O gajo não é chefe dela, mas ela não lhe dá pica.
— Ela dá-lhe pica, mas o gajo está armado em castigador.
— A gaja está bêbeda e o gajo não quer sarilhos.
— O gajo não quer testemunhas, deixa os colegas subirem para o quarto e depois vai telefonar para o quarto dela.
— Eu sou tarado sexual e vejo foda por tudo quanto é sítio.

(Por acaso é verdade. Eles a regressarem ao hotel, ela toda melosa, “Não quer tomar uma bebida?”. Ó Luís, tás parvo, homem, as tuas teorias estavam certas)
(Quem está aí?)
(Sou o teu heterónimo Dick Hard, Luís)
(Trata-me por Puta 22, se fazes favor)
(Vai para o caralho, estás sempre a mudar de número)
(Meu, estou a trabalhar)
(Tá bem. Manda-me um mail)
(Qual é o endereço electrónico?)
(warmhell@quentinho.Cocas.cóm.Piggy.pt)

Subo na direcção do Maria Amália. Quero ver se encontro a miúda gira a falar com a da velha guarda. Miúda gira, iooyoo? Where are you?
Foi-se. A da velha guarda está encostada à vedação do Maria Amália. Topa-me. E estranha a minha vinda por aquele lado. Um gajo que queria ir para Alvalade ainda anda por ali às voltas? Um gajo sem pinta de cliente? Quem será? Um Judite à paisana, com cara de tenrinho, para disfarçar?
Em frente ao Maria Amália, uma chavala nova está a rapar desalmadamente um panfleto de pó. Coca? Cavalo? Mistério. Mas não há dúvidas. Dedo no papelinho, dedo no nariz, dedo no papelinho, dedo no nariz. A da velha guarda topa a minha aproximação e dá um conselho à Miss Snifas:
— Não escondas.
Mas eu ouvi. A miúda assustou-se. Olhei em frente e segui. Sou muito senhor do meu nariz.


1h54m — Subo tudo até acima, para o regresso à minha zona, via Marquês da Fronteira, ao pé da penitenciária. Dou com um polícia a fazer o teste do belão ao condutor de um BMW. Tudo muito civilizado. O balão agora parece um telemóvel pequenino ou o raio que o parta.
— O senhor nem precisa de encostar a boca. Inspire e depois aguenta-se seis segundos.
— Assim? Sopro assim?

Segui. À Miss Snifas não precisa o senhor agente de ensinar a inspirar.
Marquês da Fronteira. Estou calmo. Não sinto receio nenhum. Apetece-me tirar a parafernália toda dos boxers. Mas às vezes o excesso de confiança é mau. Encosto ao quarteirão do lado esquerdo, para me afastar do Parque. Assim vejo todas as aproximações e quem quiser tem de atravessar a estrada.
Há guindastes a laborar, mas em silêncio. A noite continua friazita, mas bonita. Tenho um blusão porreiro e não tenho frio, mas sinto as teclas do Nokia encostadas à nádega direita.

(Olá, daqui é o Dick Hard. Tu és uma fraude, ó puta 22! Se ainda tens o relógio na tomateira, como é que podes dar as indicações horárias de forma tão precisa?)
(É a olhómetro, só para dar uma ideia ao leitor. Mas sei que entrei no Parque Eduardo VII à 1 da matina e saí às 2 e 35. Satisfeito?)

Junto ao Departamento de Economia da Universidade Nova retiro todo o material, começando pelo cartão multibanco. O meu pénis resistiu um bocado. Queria fazer um levantamento do caralho. Olho para o relógio. Apesar dos meus irrepreensíveis hábitos de higiene, será que ficou a cheirar ao “El Negrito”? Nada. Cheira é ao cabedal da pulseira nova. O Nokia também não cheira a cu. Ligo o Nokia.
“Não tem massagens. Dlim-Dlom”.
Faltava-me dar a volta ao Técnico, para a habitual contagem. Deu 24. Ou seja, 22 pedestres e duas auto-putas. Na paragem do 60, uma pérola de ébano gira a mala na atmosfera e diz bastante alto, tipo ordem simpática:
-— Vamos! Vamos! Vamos!
Aquilo foi de tal forma que pensei que ela estava a falar com a colega, metros abaixo. Afinal era comigo.
— Obrigado. Estou só a passear.
Sorrisos mútuos. Ficou na boa.

Regresso a casa pela Defensor de Chaves. Ainda não sei os preços na Defensor de Chaves, que conheço de ginjeira há quase 30 anos. Vou por ali fora, direcção Campo Pequeno e aproximo-me de uma puta que não ouve os meus passos (até ia a fazer bastante barulho, por acaso) e apanha um susto. Peço-lhe desculpa. Ela pede-me desculpa.
— Ai, o senhor desculpe. É que há bocado passaram dois miúdos assim com um aspecto um bocado esquisito e eu fiquei com medo.
— Eu é que peço desculpa. Já agora, deixe-me fazer-lhe uma pergunta: quanto é que é para o sexo oral?
Ai o caralho! Outra vez a expressão de ver um extraterrestre. Já começo a ficar fodido com esta cena.
— “Beijinhos”, é?
— Ai isto é conhecido por “beijinhos”?
Faz que sim com a cabeça. Está satisfeita por falar com um gajo simpático. O preço é dez euros. Pergunta-me se fumo. Digo que não. Que me safei na altura em que toda a gente começa a fumar. E que só comecei a beber aos 20. Agora, oficialmente, só posso beber tintol, por causa da úlcera.
— Eu gosto muito de tinto às refeições. E um uísque, não gosta?
— Nem por isso, embora um Jamesonzinho... era mais dos licores... sou guloso.
Boa-noite para cá, boa-noite para lá, direcção Campo Pequeno. Regresso a casa.

Chego a casa. Faço três ovos mexidos. Como uma banana com queijo. Espreito um programa na TV Galicia. Adoro ouvir o galego e adoro a Galiza. Quando a maré negra do “Prestige” bateu nas areias das Ilhas Cies (a 45 minutos de Vigo) eu chorei. E faltou-me a coragem de largar tudo e de ir dar uma pazada simbólica que fosse. Fiz um poema que entrou para um site galego, através do meu amigo Alberto Augusto Miranda.
Abro a Net. Comento dois posts do Kuentro, que já têm imagens do festival de BD. É a primeira vez em 15 anos que vejo as imagens da Net antes de ver ao vivo. Sensação estranha, como se estivesse em Nova Iorque. Ponho-me na brincadeira, para variar. A malta do Kuentro percebe as private jokes. É tudo malta conhecida.
São 6h48m. Vou ler os jornais. Não quero falhar a hidroginástica das 15h30m. É das minhas aulas favoritas. Posso chegar lá tipo zombie. Passados 45 minutos sou outra vez um homem.


(AVISO À NAVEGAÇÃO: não adianta fazerem-me esperas, porque entre a escrita do livro e a sua publicação os horários do Holmes mudaram todos e eu já alterei o meu visual. Vou ter um piercing na língua, o cabelo à escovinha pintado de ruivo, uma tatuagem no braço esquerdo — um dragão ou uma tartaruga californiana, daquelas pequeninas — sapatos de salto alto, à Bee Gees e óculos espelhados comprados na Feira da Ladra. Em resumo: prontinho para ocupar o meu lugar nas bancadas da Assembleia da República).

(O leitor sabia que já escrevi 865 parágrafos até agora? E que 865 era o meu número do 1º ano da Eugénio dos Santos? Eh! lá. Creepy! Não há coincidências. O que vale é que eu tenho alma de pássaro. Apetece-me algo. Sei lá, comer uma nazarena ou uma matrioska).

(Estou a gozar contigo, MR Pinto. Ameaça-me com um processo, como fizeste ao Pedro Magalhães Mexia. Vá lá, “eu preciso tanto, meu amô”, como diria o Paulo Silvino, no “Planeta dos Homens”).

domingo, maio 06, 2007

24 de Outubro de 2004

“Terça insana” fez-me chorar!

21h05m - Saio de casa com o Benfica a ganhar 1-0 ao Nacional (um golo com uma sorte do Karadas) e vou até ao antigo cinema Roma, agora Forum Lisboa, para assistir a dois espectáculos do Festival RIR, promovidos pela Comed’in, onde fiz um curso de um mês, de escrita para comédia. Reencontro alguns colegas (Heitor Lourenço, Nuno Porfírio, João Miranda, Aramac) e no final vou pedir autógrafos aos brasileiros paulistas do “Terça insana”, que me puseram a chorar... de riso!
Principalmente no sketch do Octávio Mendes, uma “Irmã Selma” plena de humor negro, de instintos assassinos à la Hitchcock, com uma pitadinha de Mário-Henrique Leiria. Tudo boa gente. Depois falei ao inglês (de Liverpool) Les Bubb, que me deu um autógrafo assim: “Make your brains go pop”. Ou seja: “Estoira-me com esses miolos”. Ele também deu um espectáculo primoroso, com grande domínio físico (técnica de mimo, raízes em Marcel Marceau) e enorme criatividade. Impagáveis as imitações de uma varejeira e de um galo. Ter entrado em cena com o som da 40ª do Mozart (a minha sinfonia favorita) pôs-me logo a atinar som o súbdito de Sua Majestade, que não foi de modas e também deu uma boquita ou outra à Rainha, mas sem maldadezinha nenhuma.

05h45m - Acabei de fazer o poema para o “Florilégio de Natal” dos escritores da Tertúlia Rio de Prata. Uma tradição a rasar os dez anos. Começámos em 87. Este ano o meu poema chama-se “Covadonga, 25 Dezembro, neblinas matinais” e coloquei o meu habitual quarteto de personagens (Deus, o Diabo, o Menino Jesus e o Pai Natal) a passar o 25 de Dezembro nas Astúrias, nos lagos que encimam a catedral de Covadonga.
Corro o anti-vírus do computador e constato que tenho 11 Trojans capturados pela quarentena. Tremo um bocado por dentro, depois de 20 e tal dias a funcinar na maior. Mas ainda mantenho a esperança de que esteja tudo OK. Peço a Deus uma ajudinha.
São 06h51m. Na avenida já começa a sentir-se o movimento do pessoal a ir para o trabalho. Está na hora de passar os olhos pelo PÚBLICO e pela BOLA. Estou com um bocado de fome. Vou-me aos iogurtes. Mas antes ainda vou imprimir estas últimas páginas. Andale, andale, arriba, arriba, como diria o meu amigo Speedy Gonçalves.