domingo, janeiro 06, 2008

11 Dezembro de 2004

“Bartoon” (a erecção na escuridão)
‘Teatro Mínimo’ na Guilherme Cossoul

8 horas - Quando decido ir para a cama, na boa (pensava eu que os idiotas do escritório não vinham ao sábado) começa o barulho. Passo-me! Meto mais um kainever, ponho os tampões nos ouvidos e regulo o despertador para as 16 horas. Quero ver na RTP2 o Sporting de Espinho — Castelo da Maia (2-3, grande jogatana) e o VIC — Benfica, em hóquei (1-1, passou o Benfica, mas não jogou nada do outro mundo. Nem os espanhóis do vê-i-cê, como disse a “speaker” do Benfica, na primeira mão, na Luz).

19 horas - Dou 15 minutos de braçadas rápidas na piscina do Holmes e à saída flirto um bocadinho (não dá nada, mas desopila-se) com a Diana, da recepção, que me confessou ter feito parte dos Tocárufar. Na recepção dá para flirtar com o pessoal todo. É tudo miúdas giras. Os homens também são bonitos, mas o meu prisma óptimo é completamente diferente em relação a eles.
(Um dia, quem sabe, a vida dá tantas voltas...)

21h30m - Como uma sopa de alho francês no átrio do Saldanha Residence, ao pé dos cinemas. O ecrã do átrio transmite o Sporting. Já nem sofro. Deixo a mesa por breves instantes para ir falar a um amigo noutra mesa (um jornalista amante do jazz) e fico de olho no meu blusão, não vá dar-lhe vontade de ir à casa de banho com outra pessoa, por alta recreação.
Evito por duas vezes que as funcionárias de recolha de tabuleiros me levem ainda a sopa a meio, a garrafa de água, o folhado de queijo e fiambre e a maçã assada. Também não era muita coisa.

22h40m - Junto-me aos amigos da BD na Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul, onde eu, o Luís ‘Destravado’ e o Gastão Salvado organizámos o Filotoon, uma semana de cinema de animação à borla, entre 7 e 13 de Outubro de 2002. Sim, sem pornografia.

23h07m - Começa a peça baseada no “Bartoon”, do meu amigo Luís Afonso. Em palco estão os meus amigos Pedro Alpiarça, José Boavida, Vicente Morais e... e... e... nem consigo escrever... a Vera Fontes, uma miúda mais querida que um Ferrero Rocher arraçado de bombon de ginja, coberto com chantilly e com um travo final de Absolut Citron misturado com peppermint Get 27.
Bem, já não via a Vera há uns cinco anos, desde o “Romeu e Julieta” no palco do Trindade. Um “Romeu e Julieta” à moderna, em que a Vera aparecia toda nua. E eu chego à Guilherme Cossoul sem relacionar o apelido Fontes com a Vera toda nua de há cinco anos.
Bem, a Vera é gira, a Vera é simpática, a Vera é boa, a Vera tem uns seios de sonho...a Vera não se lembrava puto de mim. Mas já lá vamos.
O Boavida lá está atrás do balcão, a fazer de barman, o Vicente aparece a fazer de Pintas e de Militar Bronco. O Alpiarça a fazer de compadre alentejano. E todos vão bem. O problema é quando entra a Vera a fazer de Matilde, que vem toda boa. Usa um espartilho branco (vi eu nos bastidores) e um soutien tipo Jean-Paul Gaultier. E faz um papel da enjoadinha/menina da terra/sensual.

23h33m (mais ou menos) - O Luisinho começa a conspirar com o Dick Hard, vá de trocar piadinhas, o Luisinho começa a lembrar-se da Vera nua no palco do Trindade, está ali a olhar para a Vera outra vez, toda giraça...e aconteceu o inesperado. O Luisinho teve uma erecção. Não foi uma erecção máxima, que aquilo era o Teatro Mínimo. Mas foi uma vera erecção, provocada pela Vera, na escuridão. E a erecção até podia ter durado até ao final da peça, não fosse a Vera sair de cena e o Luís Graça ter dito ao Luisinho e ao Dick Hard: “Porra, pá, quando preciso de vocês é só baldas, agora que estou no teatro é isto!”.
00h15m — Bato à porta dos bastidores, de surpresa.
Boavida — Olha o Luís!
Luís Graça — Posso entrar? A Vera não está nua?
Boavida — Quase!
Luís Graça — Então eu espero e depois entro!
(Entro e dou uns bacalhaus à malta, mas estou mais interessado na Vera).
Luís Graça (para a Vera) — Olha, até já te vi nua, a fazer de Julieta!
Vera Fontes — Isso foi há uns... cinco anos...
Luís Graça --- Já vi que não te lembras de mim. Eu lembro-me muito bem de ti.

Bem, eu passo a dar opiniões sobre a peça ao Boavida e ao Alpiarça, mas a Vera vai-se despindo e tira o espartilho, que é tipo armadura medieval. Pelo espelho, numa fracção de segundo, vislumbro através do maillot branco que continua com uns seios perfeitos. E não tive coragem de ficar a olhar por mais tempo. Aí sim, era capaz de ter uma erecção à Dick Hard e partir os adereços. Ah! e continuo bastante esgotado! É só para verem, seus palhaços! Ainda há aqui 17 centímetros de homem, quando calha!

(Sim, em erecção. Queriam que fosse no estado normal, seus idiotas? Eu não faço publicidade enganosa, não me chamo Rocco Sifreddi ou John Holmes. É como no anúncio da Renault: grandes para quê? Eu nem tenho carta de penetração. Era para tirar (e meter) logo aos 18, mas a coisa foi-se arrastando e ando muito nos transportes públicos fora de hora de ponta).

00h40m - Apresento os actores ao pessoal da Tertúlia BD, que neste caso está travestido da Tertúlia dos Bedéfilos Teatrófilos. É a segunda incursão da malta no teatro, mas eu estava convencido que era estreia.

01h10m (mais ou menos) - Dou o meu cartão de visita “romântico e quarentão” à Vera e ela dá-me o telemóvel dela e o mail.Já ganhei a noite. A Vera vai-se embora e mando-lhe beijinhos de longe. É muita querida. Também deve ter defeitos, mas eu não sei nada disso nem quero saber.

02h15m - Estou no “Túnel de Santos” (não tem nada a ver com o Santana Lopes nem com um bar de putas, é mesmo um bar/restaurante que fecha às 3 da matina, ao lado do Cinearte/A Barraca), com os meus amigos António e Gastão Salvado. Como somos todos gajos normais, saem três bitoques para a mesa do canto. A TV está ligada na TVI. Bolinha vermelha no canto do ecrã. Que filme é este? Olha, o Ryan O’Neal, a Ally McGraw e o Ray Milland. É o “Love Story”.
Gastão Salvado — Bolinha vermelha porquê?
António — Também não percebo.
Luís Graça — Nem eu, já acredito em tudo. Por acaso até chorei, quando vi o filme em meados de 80, em Braga. Na TV. Foram umas férias em que os cinemas de Braga só tinham filmes porno e kung-fu. E foi assim que fui ao Cine-Teatro Circo ver a Anette Heaven pela primeira vez, num filme das 1001 Noites, que vi a Veronica Heart pela primeira vez (e não tive erecção, mas saí do cinema com as calças sujas por aquele líquidozinho pré-aviso de recepção, olha que chatice!) em “Amanda, perigo sexual”. E vi o “Fist of fury” do Bruce Lee.
E ver a pornografia em Braga foi muito giro, porque o pessoal mandava bocas em clima de grande interactividade e confraternização. Passados uns anos fui ao Sá da Bandeira, no Porto, ver “As ultrapotentes”, com a Pippi Andersson, uma modelo sueca de passerella que fez uma boquinha nos filmes porno. E que boquinha. Há uma cena em que ela está de joelhos e são cinco de volta dela. “Ó menina, desculpe, quando pudesse atender-me...”.
Depois saí do Sá da Bandeira e fui ver “A cor púrpura” do Spielberg, que por acaso era protagonizado por uma preta, a Golderg, que até tem nome judeu. Que grande confusão de narizes!

(Cyrano de Bérgerac — Chamaram?
Luís Graça — Agora já não preciso de ti. Se fosse no outro dia, no show com a húngara, no Peep Show, é que eras preciso. E ainda tinha o Juca Chaves, para o que desse e viesse...
Juca Chaves — A Yara nunca se queixou... (sic, Festival de Humor do Inatel, para aí em 1995)

03h05m - Casa. O carro do António fica estacionado em frente à minha porta, enquanto vou buscar uns cartazes de uma gala de kick-boxing para dar ao Gastão Salvado. Estava prometido. Subo e desço num ápice, ao contrário do que acontece com a minha vida sexual, que está como eu: com os fusos todos trocados.

(Podia ainda falar-vos da super-erecção involuntária do Verão de 78, que não tem nada a ver com o “Verão de 42”, que vi no Zodíaco, ao pé da Judiciária, dos travestis, das putas e do “Maybe”.
Ah! querem que conte já? Então está bem.
Eu fui parar ao hospital com uma pleurisia na Primavera/Verão de 1978. A pleura cheia de líquido. Uma pleurisia líquida. Fiz três punções, parecia um alambique de Chicago nos tempos do Al Capone.
Tinha de fazer fisioterapia. Ou seja, ginástica respiratória. Primeiro era o senhor Carvalho que me fazia os 15 minutos de pressão abdominal. E tive de aprender a respirar pelo abdómen.
Um dia apareceu uma miúda gira, de 19 anos, a Isabel, uma estagiária. Eu tinha 15. Ora bem, a malta para fazer fisioterapia está deitada nas marquesas, de barriga para cima e calças desapertadas, senão a barriga não sobe e desce.
Eu ponho-me a olhar para a Isabel, que era gira e simpática e...oops! O Luisinho fez continência com uma velocidade que até surpreendeu o campeão mundial desse ano, o Andretti, da Lotus. Reacção do Luís Graça: corou automaticamente, continuou a respirar como se não fosse nada e tentou disfarçar. Mas disfarçar o quê, senhores ouvintes? É claro que a Isabel viu, mas agiu profissionalmente.

NÃO FEZ NADA! IDIOTAS! Continuou a ginástica respiratória normalmente. E posso dizer que não me provocou absolutamente nada. Nem com o olha, nem com os movimentos do corpo, nem com o decote. Aquilo foi uma coisa que passou pela cabeça (a glande, que o resto é só para levar e trazer, dizem os entendidos) do Luisinho e o Luís Graça teve de se aguentar à bomboca.
Resumindo: quando é preciso, não há nada. Quando não é conveniente, não faltam. Vá lá entender os homens).

6h12m - Vou tentar dormir sem bombas, mas antes ainda dou uma passadela de olhos pelos jornais. O mesmo erro táctico de sempre, quando se está com esgotamentos. O que querem? Ainda sou mais viciado em jornais do que em pornografia. Haviam de ler um livro meu quando estou em forma. Isto é a jogar a 30 por cento. O último conto (cronológico) do “Neura 2004” (A mansão das mil folias) também foi escrito em pleno esgotamento. E para a revisão do “Neura 2004” fiz duas ‘directas’.
E adoro escrever. Se é para nos rebentarmos num emprego merdoso das 9 às 5, venha de lá essa escrita.

(Dedico este dia do livro a todas as miúdas queridas que passaram pela minha vida. De uma forma ou de outra. Mais de outra, que sou um menino tímido. Não acreditam? Não me conhecem).