quarta-feira, janeiro 23, 2008

13 de Dezembro de 2004

O diabinho vibrou durante horas
e eu fiquei prisioneiro do Inatel


18 horas - Pontualmente, ocupo o meu lugar no bar da Assírio e Alvim, no King Triplex, para a sessão de autógrafos e declamação do “De boas erecções está o Inferno cheio”. Desta feita, envergo a camisola de hóquei sobre o gelo dos Calgary Flames (de um vermelho-vivo), tenho pendurados ao pescoço dois bonequinhos de peluche (um ursinho e um porquinho), uso óculos escuros e fumo cigarrilhas e pequenos charutos da Henri Wintermans (Half Corona). O Luís Graça não é fumador, mas o Dick Hard gosta de fumaças. Eu estou no King como Dick Hard. Tenho um ar arrogante, de gajo importante, provocador, visto de longe. Depois, se o leitor se dirige a mim, sou um gajo simpático, que pergunta logo se o fumo incomoda. Tenho à minha frente duas mesas cheias de poemas espalhados, um casal de porquinhos a copular (bonequinhos, bem entendido) e um vibrador verde com um preservativo/diabinho enfiado nele, a girar. Girou durante toda a sessão, desde as 18 horas até às 21 e 30. Ninguém ligou nenhuma. Talvez tenha mesmo havido quem não se tenha apercebido de que aquilo era um vibrador.
Um rapaz levou um marcador do Neura-2004. “Por uma questão utilitária”, confessou. Dá sempre jeito marcar as páginas de um livro, para saber onde se está.
Recebi a visita de alguns amigos e conheci uma fã bem recente, a Ana, irmã da Cristina, uma colega da hidroginástica.

21 e 55 - Chego ao Inatel para a primeira jornada da segunda fase de ténis de mesa. Tenho o árbitro à minha espera nos balneários.
“Então?”.
Então, o quê? Ainda faltavam 20 minutos em relação à hora marcada para o início do encontro. Perdi os dois jogos, embora tivessem sido equilibrados.

(Não é para me desculpar, mas estava tocado das quatro ou cinco Guiness que bebi no bar do King. E já não comia desde o almoço. Podia perfeitamente ter perdido os dois jogos, mas os 11-4 do primeiro set com o senhor Octaviano são mesmo devidos ao facto de estar a ver a bola a fazer percursos curiosos na atmosfera. E o estilo de jogo dele, todo cortado, também me embebedou. Não quero tirar méritos aos senhor Octaviano)

Os meus companheiros de grupo são pessoas com quem nunca tinha falado. O empregado do Inatel veio avisar às 23 e 15 horas que aquilo ia fechar às 23 e 30. Gostei. Já uma vez os portões tinham sido fechados com jogadores lá dentro. Por isso, ter ficado prisioneiro do Inatel não foi novidade. Pus uma cancela encostada à parede (tipo assalto a castelo medieval), subi, pousei os sacos lá em cima, puxei a cancela, encostei-a à parede do lado de fora e desci. Da outra vez tinha acontecido esta situação a cinco jogadores. Agora eu estava só. E tinha dois sacos a tiracolo (o do ténis de mesa e o dos autógrafos, que tinha para aí uns 4 quilos), mais o chapéu de chuva. Foi mais trabalhoso subir com aquilo tudo. Apesar do grande barulho que fiz com a cancela (o que é inevitável, é metal a bater contra a rede, contra a parede e a cair sobre chão de pedra), nenhum vizinho veio à janela e o homem do lixo deve ter achado que aquilo era a coisa mais natural do mundo, um gajo a “desassaltar” o Inatel.
O país está verdadeiramente bonito.