domingo, fevereiro 17, 2008

18 de Dezembro de 2004

Em Peniche, a ver os faróis do litoral oeste

Tento dormir às 7 da matina. Às 8 meto um kainever. Pelas 9 devo ter adormecido. Pelas 13 e 45 sou acordado. Tenho perto de uma hora para chegar ao Campo Grande. A minha amiga Inês Ramos vai dar-me boleia para o forte de Peniche, onde decorre o lançamento do livro “Guardiães do Litoral Oeste”, com texto de Carlos Baptista, fotos de José de Deus, prefácio do professor Martelo e design da minha amiga Inês.
O nosso carro leva Deus ao volante e a Inês ao lado de Deus; atrás, da esquerda para a direita, a Alexandra, eu e o actor e escritor Álvaro Faria, que leu textos do livro. E bem, como seria de esperar.
A obra está mesmo bonita e o lançamento foi muito interessante. Compro uma data de coisas na loja de artesanato. Durante o lançamento ocorre-me um verso à Dick Hard: “Ó amigo faroleiro/que olhas de longe o mar/só podes ser punheteiro/não tens ninguém para amar”.
O dia foi muito agradável. Fomos num pulinho ao Cabo Carvoeiro, antes de chegar ao forte de Peniche (ou fortaleza, é a mesma coisa). Por acaso o dia até é histórico. Cumpre-se um aniversário da fuga do dirigente comunista Dias Lourenço.
Chegamos com uma hora de avanço para o lançamento e assim ainda vamos tomar qualquer coisa a um café que anuncia como petiscos “caracóis, amêijoa branca, camarão, polvo e navalheiras”. Nas bebidas, particular destaque para a variedade: brandymel, mel doiro e lacrimel, a 2 euros.

17h35m - Na televisão vemos o Wayne Rooney a falhar um penalty para o Manchester.

18h05m - Provo uma água de 33 cl de uma marca que não conhecia: Caldas de Penacova. Não é má. Inicia-se o lançamento.

20h (mais ou menos) - Saio do salão nobre do forte e dou com a potentíssima fotografia que está no átrio: o povo em reivindicação, a 26 de Abril de 1974, um dia a seguir à revolução. Lê-se um cartaz: “Peniche exige forte para visitar e não para ficar”. O registo é de António Alves Seara. Ao lado, uma lápide assinala que a libertação dos presos políticos só ocorreu no dia seguinte.
Agarro-me às grades e vislumbro um parlatório, com a indicação expressa de que as conversas tinham de ser mantidas de forma a que o guarda pudesse ouvir tudo o que se dizia.

21h30m - O pessoal amigo janta todo junto. Ele era feijoada de búzios, ele era picanha, ele era caldeirada.
— Mas ouve lá, vens para Peniche comer Picanha? — disse Deus ao co-autor Baptista, o antropólogo engravatado do dia.
— De peixe ando eu farto. Quero comer bem — respondeu o sobrinho do faroleiro, sem temor a Deus.
— Então e uma feijoada de búzio não é comer bem?
Acordou-se que sim. Deus ainda comeu caldeirada.
E a malta regressou a Lisboa. Com uma paragem na área de serviço deserta. A série da TVI ouvia-se através dos altifalantes nas casas de banho. Quando cheguei a casa, a Alexandra Lencastre estava a cabriolar no Passerelle, com um corpete vermelho de se lhe tirar o chapéu. Mas o Joe Cocker, a Kim Basinger e o Mickey Rouco não estavam presentes.
Vou-me ao computador, ligo a Net, abasteço a Inês de poemas, retribuo votos de Boas Festas, peregrino pelo quartzo-feldspato-mica, vejo o último kuentro, com as minhas fotos encimadas pelos habituais balões subversivos do Jorge Machado-Dias.