domingo, fevereiro 11, 2007

11 de Outubro de 2004

A canzana de Amesterdão

Ponho o despertador para as 11 horas. Pelas 11h30m vêm-me trazer o novo colchão. Foi uma pena libertar-me do outro, que tinha apenas 22 anos de uso! Agora tenho um Molaflex Molinhas Yoga. Não sei como vai ser. Ainda não dormi nele. Não posso fazer juízos de rendimento sobre qualidade de sono, sexo ou leitura. Sim, uma cama serve para muita coisa.
Como tive de acordar “de madrugada” (já sabem que o meu fuso é outro) e só dormi umas quatro horas, resolvo aproveitar para descontrair na piscina do Holmes Place. E lá vou eu para a aula de hidroginástica das 13h15m, dada pela Carla. O corpo principal do trabalho foi feito com “aquafinn”, que são uma espécie de asinhas de morcego que se prendem aos punhos ou aos tornozelos, para aumentar a resistência à água e trabalhar os músculos. Para variar, grande presença feminina na água: 22 senhoras para três homens.
Acabou a aula e fiquei por lá a andar de um lado para o outro, dentro de água. Depois jacuzzimizei-me uns bons 20 minutos e voltei a casa. Saquei do livro de cheques e fui pagar a Caixa dos Jornalistas, como freelance. Agora querem que a malta comece a pagar via multibanco.

Almoço. Depois vou até aos jardins da Gulbenkian, ler os jornais. Capturo os maravilhosos raios de sol de um final de dia magnificamente outonal. Já estou a sair quando encontro uma dilecta amiga dos tempos do DN-JOVEM. Veio passear com a filha, de quase três anos. Pusemos a conversa em dia, apesar das queixas da Leonor, que queria mais atenção da parte da mãe. Entro na brincadeira com a menina e acabo a “meter uma cunha” à mãe, para a levar a ver “O gangue dos tubarões”, que por acaso ainda não degluti. Depois fiz de cavalinho, carregando com 16 quilos às costas até ao carro, segundo fontes bem informadas. No final, a Leonor deu-me um torrão de açúcar imaginário, tal como tínhamos negociado previamente.
Janto e dou de pinote para a minha catedral dos últimos dias, o S. Jorge. Chego bastante em cima da hora, mas ainda caibo no sector central da fila P. Lá vejo o “Podium”, de que gostei bastante.
Estreado em França em Fevereiro, este filme (adaptado do livro do realizador Yann Moix, de 2002) é uma verdadeira pérola do nacional-pirosismo-cançonetismo. Reza assim a sinopse retirada do programa da V Festa do Cinema Francês: “Nome: Bernard Fréderic. Profissão: Claude François, cantor de sucesso dos Anos 70. Sósia profissional, flanqueado pelas suas quatro coristas, a sua ambição é ganhar o concurso televisivo dos sósias. Ao lado do seu amigo Couscous, sósia do produtor musical Michel Polnareff, mergulha com deleite nesse universo fútil, correndo o risco de perder a mulher, o filho e a sua própria identidade”.
O filme tem vários méritos. Evocando a memória de Claude François (falecido a 11/3/1978), capturou o espírito do nacional-cançonetismo gaulês dos anos 60 e 70, já que Claude François começou a destacar-se ainda na primeira metade dos anos 60. Ao lado romântico do pirosismo, excelente para ser tratado em comédia, soma-se a interpretação verdadeiramente a rasgar de Benoît Poelvoorde, que foi a “isca” que me pescou para o visionamento deste filme, à mesma hora de “L’Anatomie de L’Enfer”, de Breillat, programado para o Instituto Franco-Português.
Poelvoorde continua com a mesma truculência de “Manual de Instruções para Crimes Banais”, polvilhada agora com uma versatilidade a todos os títulos notável. A sua cena com a sensual Marie Guillard (uma das meninas do coro de Poelvoorde) é digna da cena de truca-truca de “Delicatessen”. Ao som de “Si j’vais un marteau” (adaptação de Claude François de “If I had a hammer”), ele ataca canzanisticamente Marie Guillard, num dos momentos superlativos do filme, fazendo também lembrar uma canzana famosa em “O homem das estrelas”, protagonizada por Sergio Castelitto, que os protugueses viram recentemente na TV, a fazer de Enzo Ferrari.

A banda sonora é mesmo um “must” e o CD será bem comprado por quem assim o decidir. Pelo filme perpassa a memória de Joe Dassin, Johny Halliday e alguns outros monstros da canção francesa. Halliday faz mesmo um pequeno “cameo” de segundos, sem diálogo, simplesmente a atravessar o palco.
Fenomenal o dueto ao piano entre Poelvoorde e Claude François, com a ajuda da trucagem. Eu já tinha visto um bocadinho na TV5, quando o filme estreou. Prodígios da tecnologia, que também pôs o Nat King Cole a cantar em dueto com a filha, num clip.
Saio do cinema bem disposto e meto outra vez pela Rodrigues Sampaio, para subir até casa. Pouco passa das 11 da noite e à porta do clube de strip Sampayo ainda não se nota grande movimento. Continuo a subir e acabo por entrar numa sex-shop, que está deserta. Ponho-me a “folhear” os DVDs e deparo com uma enorme oferta na área da zoofilia. Penso que não será muito boa ideia falar de um destes DVDs aos leitores(as). Afinal, sou o autor do conto “O homem que sodomizava cães de raça”, que até foi desviado de título de livro para segundo conto de “O homem que casou com uma estrela porno e outros contos perversos”, da Polvo. Por outro lado, este conto foi escrito em 1994, como mero exercício de estilo. É preciso ser muito bronco(a) para não saber distinguir entre ficção e realidade.
Bem, resumindo: considero serviço público a divulgação do conteúdo de um DVD de zoofilia. E aviso já que só tinha visto um filme desta área, até ao momento, em casa de um amigo, há muitos anos. E fiquei muito abananado, depois de ter visto uma brasileira a praticar sexo oral com um cavalo. O bichinho ejaculou tipo jacto Falcon, ela engasgou-se e até parecia que tinha levado com o recuo de um canhão do tempo do Gungunhana.


1 da manhã (bem bom, ei, 2 da manhã, ei, bem bom)
Toma lá com um Dogue Alemão!

Depois de muitas hesitações (estive para trazer um DVD de meninas a sodomizar meninos, a chamada simulação masculina, também era um DVD esquisito e com pano para mangas no que toca a comentários), optei por “Danish Master Dog”, volume 14 da colecção “Animal Lovers”. DVD datado de Junho de 2002, produzido na Holanda, em Amesterdão. Depois de ver o filme continuo a gostar mais das holandesas, dos canais, do Rutger Hauer e do Ajax.

Para que ninguém perca nada destes quase 60 minutos, resolvo fazer uma espécie de “filme de jogo”, tal como acontecia na “Gazeta dos Desportos”, em que era obrigatório ter 50 linhas a descrever as jogadas, para dar uma coluna de alto a baixo do jornal.

Preâmbulo: o filme retrata um “ménage à trois” entre duas holandesas (presumivelmente) e um dinamarquês de origem (o cão, que também pode ser holandês). De resto, a situação é confusa. O Grand Danois, ou Great Dane, tem nomenclatura portuguesa como Dogue Alemão e não Dogue Dinamarquês. Como é pouco provável que tenham utilizado um cão estrangeiro, partamos do princípio de que é de raça tulipense, arraçado de dinamarquês.
O filme começa com as duas meninas a beijar-se. Uma tem um aspecto mais ordinário, outra até tem um aspecto bastante fino.O cão não está em cena.
5’31’’ - A menina mais ordinária (designemo-la por actriz B) já está numa de “fist fucking” (masturbação com a mão toda dentro da coelhinha da actriz A, a mais fina). Pormenor de salientar: retira os anéis, para não magoar a camarada de caralho. Vão-se os anéis, fiquem os dedos! A menina tem um relógio estilo swatch, que a acompanhará ao longo de toda a película. Como não se vê a marca, presumo que seja falta de lembrança em tirar o relógio. Também pode ser promessa. Ou uma agenda muito sobrecarregada, que a obrigue a controlar o tempo metodicamente.
7’03’’ - Um beijinho na perna da menina penetrada. É o toque de ternura de que o filme carecia.
7’39’’ - Actriz B agarra num vibrador cor de chocolate, com a glande em rosa, com vibração propulsionada a pilhas. Há mudança de posição, com troca de extremos. Mãozinha de Scolari? Mistério. Primeira cena de sexo oral.
8’50’’ - Primeira penetração do vibrador. O zumbido é intenso, tipo Abelha Maia no final do episódio.
10’57’’ - Percebe-se que o realizador deu uma indicação qualquer. Julgo entender “Allez!”, mas não posso garantir. O segundo vibrador (preto e doirado, talvez tenha patrocínio da John Player) entre em acção.
11’33’’ - Actriz B mete os dois vibradores na boca, enquanto actriz A lhe lambe a zona da verdade. O som dos vibradores é igual ao de uma broca de água, no dentista.
12’59’’ - Vibradores em dupla penetração.
15’45’’ - Auto-fist fucking. Não percebem?!? Ai, ai,ai…é preciso dizer tudo aos meninos e meninas. São muito atadinhos... pronto, eu explico: a menina vira-se de rabo para a câmara e mete a mãozinha dela na ratinha dela. Perceberam agora?
17’04’’ - A segunda atleta brinca com o vibrador negro e doirado. Tem o mesmo problema de Hugo Viana e Pedro Barbosa. É muito paradinha, parece adormecida.
18’57’’ - Temos um pico fonético. O som conjugado dos vibradores lembra a partida de um GP de Motonáutica, mas Nico Benavente não tem mesmo nada a ver com este filme.
20’06’’ - Cena de masturbação. Vibradores a suplentes, mas sempre com a pilha a funcionar. Certo que a Holanda é um país rico, mas este desperdício de energia devia ser condenado. O Protocolo de Quioto não abrange estas situações?
20’34’’ - O cão entra em cena, finalmente. Mas desenganem-se os que esperavam uma cena progressiva. Este filme não tem mesmo argumento nenhum. As duas meninas entraram mudas e saíram caladas. Gemeram muito mais do que o cão.
A primeira imagem do cão é já com a menina mais fina a lamber a vermelhusca sarda do Grand Danois (que não tem as orelhas cortadas, como é comum na raça). O focinho do cão não é filmado. Encaro a hipótese da preservação do anonimato, para evitar problemas com a família. Mas é hipótese que não se confirma. E apesar do DVD dizer que todos os participantes apresentam comprovativos em como têm mais de 18 anos, é evidente que o cão é menor. E a FIFA não faz nada.
23’19’’ - Quem sabe de cinema reconhece o famoso “Plano Céltico”. É um plano lateral, que apanha a menina por baixo do cão. O plano chama-se céltico porque parece que ela está por baixo de uma anta pintada de preto. O cão está desconcentrado. Vê-se que faz porno por dinheiro. Tem uma expressão caracteristicamente aparvalhada. Não nos admiraria nada que mais tarde venha a escrever uma biografia a explicar que foi obrigado.
24’10’’ - Menina mais fina sujeita-se à sarda pouco erecta do super-canídeo. A cena é de penetração/masturbação, já que é preciso agarrar a sarda do animal pelo nó e andar num vaivém contínuo. É assim estilo rebocador, porque o cão está de pé e de costas para a menina, que está deitada na cama, de perna aberta, de frente para o cão, tipo sapo. Só vendo, mas depois não digam que fui eu que mandei. A expressão da menina indica que pode mesmo estar a desfrutar da situação. Muito mais do que o cão. Isso é certo. Até porque ganha muito mais do que o cão. Uns ficam com a carne, outros roem os ossos, como sempre.
29’33’’ - Bond, James Bond, em “Tira e torna a meter”.
31’25’’ - Cão tão depressa apresenta uma expressão séria e curiosa perante a câmara como está de língua de fora. O contraste entre o preto da cabeça e o rosa da língua dá-lhe uma expressão patusca, tipo desenhos animados.
35’40’’ - Está na hora da outra menina lamber os tomates ao cão.
37’46’’ - Aqui está a verdadeira canzana! A menina vira as costas ao cão, que também continua de costas. Tem de ser a outra menina a direccionar a sarda. E a menina mais fina é que fode o cão, auto-propulsionando-se na cama king size.
41’27’’ - Menina mais ordinária dá beijinhos no cu da menina mais fina. Já estou muito cansado de ver o filme, mas quero ver se as miúdas dizem qualquer coisa. Não dá para avançar o filme à campeão. O profissionalismo tem regras. Talvez o filme não seja falado para se tornar mais universalista. Ou por motivos de marketing. Assim, pode ser compreendido em todos os países e mesmo por todos os animais, permitindo um visionamento simultâneo a donos de cães de companhia e respectivas mascotes.
44’05’’ - Regresso à primeira posição. O cão continua desinteressado. Questão ética: o cão está a ser violado? Por um lado, não parece nada atormentado com a situação, por outro é evidente que ele não quis tomar a iniciativa. Sendo assim, a participação de animais em filmes porno está ao nível das touradas, dos jardins zoológicos, dos espectáculos de circo? Questão para reflectir.
Certo é que o cão pode ser holandês mas tem feitio de cão alentejano. Mais calma do que aquilo não é possível. A minha grande dúvida existencial é: será que o cão se vem, para o filme acabar? Ou acaba mesmo sem o cão se vir? Ou seja, haverá um filme porno sem o chamado “money shot”?
46’49’’ - Segunda menina entra em acção. Pára no peito, cola na relva, penetra na área.
52’58’’ - Segunda menina muda de posição.
55’05’’ - Menina mais fina faz sexo oral ao cão.
56’17’’ - Ajuda ao número...2! (Lembram-se da Barra do Lenço?)
De repente... acaba tudo. O cão não se veio. Quem quiser saber mais, continue a seguir a série. Para mim chega. Não faço ideia de como são as outras produções. São 4 horas e 29 minutos.

4 Comments:

Blogger Capitão-Mor said...

Não tenho qualquer tipo de preconceito em admitir que aprecio algum tipo de filme para adultos, mas zoofilia está fora de questão. Afinal de contas, sou um conservador e existem alguns limites morais! :) Mas pelo que vejo,somos especialistas na matéria e desde já lanço o desafio de editar uma revista "a meias" dedicada a este género! :)
Uma boa semana para si.

2:32 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Especialista na matéria? Bolas!
Já tenho a minha dose.
Esta dos cavalos foi mesmo um impulso. Não há hipótese de fundar uma revista sobre o tema.
Nem eu, nem o Dick Hard, nem o Ludwig Von Grazen, nem o Luigi Grazianni, nem o Louis Alphonse, nem o Lewis Grass, nem o Luisiov Grassianov, nem o Lizafonso Almeidinha, que são heterónimos que cultivo com amor desde 1977.

6:07 da manhã  
Blogger Unknown said...

Pois a Revista Dominium esteve cá e gostou...

Parabéns pela ousadia, irreverência e "relato desportivo" tão acintosamente pronunciado que nos fez chegar ás lágrimas.

Já tínhamos gostado dos equinos, mas este remate com os cães de fila foi a cereja no topo do bolo.

Saudações dos 3 pindéricos solidários no Peep Show ;)

P.S. Alguma possibilidade de nos facultarem o contacto dos animais envolvidos, para uma entrevista exclusiva (sim, com os Acordos de Kyoto, Maastricht, Tordesilhas, etc em vista)?

2:27 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Muito obrigado pelas palavras amáveis e tudo de bom para a revista.

Quanto aos animais envolvidos, acho que não podemos fornecer os contactos, por motivos legais.

A própria Casa Fernando Pessoa não me pôde fornecer o mail do Richard Zenith, a quem eu queria pedir para escrever o prefácio de "15 desatinónimos para Fernando Pessoa".

E realmente não sei até que ponto os animais estavam envolvidos. Nalguns casos achei mesmo que não estavam emocionalmente envolvidos.

5:47 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home