domingo, fevereiro 25, 2007

14 de Outubro de 2004

Futebol por linhas tortas

18h35m - Saio de casa para o lançamento do livro do meu amigo Luís Afonso (tem o mesmo nome que eu, mas eu nasci com alguns anos de avanço), que se chama “Futebol por linhas tortas”. É na Bertrand do Vasco da Gama, pelo que me meti num táxi e lá fui dar à zona da Expo-98.
Andei um bocado à nora, porque a Bertrand mudou de sítio e agora está num piso superior, com uma bela livraria. A outra não era má (até era simpática), mas tinha muito pouco espaço. Esta nova Bertrand tem um espaço muito cuidado e por isso a minha primeira impressão foi muito positiva.
Quando cheguei a coisa já estava em movimento e depois seguiram-se os autógrafos. É sempre um momento muito concorrido, no caso do Luís Afonso. Peço para me baterem um “boneco” abraçado ao Luís Afonso, que tenciono mandar ao Bernardo Sassetti, um dos génios do jazz português. O Bernardo (com quem troquei cartões de visita há pouco tempo) confundiu-me com o “verdadeiro” Luís Afonso, no final de um concerto no CCB. Por isso, vou-lhe mandar a foto, para ele descobrir as diferenças entre os dois Luís Afonsos.
Comprei dois livros. Um para mim, outro para o grande Alvarez Rabo, com uma dedicatória do Luís Afonso. Hoje telefonou-me o Rui Brito, com uma “convocatória” para dia 30, em Viseu. Eu e o Rabo vamos dar autógrafos na livraria da Polvo. Calha no segundo fim-de-semana do festival da Amadora, pelo que imagino o corre-corre que vai ser. Mas como um dos meus objectivos era estar com o Rabo, tudo bem. Se ele vier de capuz enfiado (é o mais natural) vou-me solidarizar e também enfio um barrete, ou melhor, um collant. O espírito de equipa é muito bonito.

21h15m - Estou no Holmes Place, para mais uma aula de hidroginástica. Desta feita, grande proporcionalidade entre homens e senhoras (9 contra 6, vantagem senhoras). Pela primeira vez tive de esperar um pouco para poder tomar duche. Nota-se uma grande afluência de sócios, agora que acabaram as férias. Tinham-me dito que o clube queria ter apenas uns mil sócios, mas o facto é que já vai nos 5 mil! E na Defensores de Chaves são 12 mil! Começo a sentir-me claustrofóbico. Mais grave: no meio de tantos sócios e sócias como é que a minha vida sexual não se está a ressentir positivamente?

00h - Cá estou eu a ver o “Cabaret da Coxa”, hoje com o Nuno Nodim (sexólogo) na primeira parte e o José Cid na segunda. O Pedro Ribeiro fez um comentário espectacular à letra de uma canção do José Cid. O Cid acabou por confessar que a letra não era dele.
Depois ainda espreito um bocado do “Sexo na Cidade” e do Venezuela-Equador.

7 Comments:

Blogger Capitão-Mor said...

O episódio de hoje é bastante "soft"! :)
A propósito de edições literárias, hoje dei um pulinho no site da FNAC e fiquei interessado no último livro de José Vegar - Os Serviços Secretos Portugueses. Uma temática da minha simpatia e é sempre bastante complicado obter informações sobre os nossos serviços de informação.

11:38 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Pois é. Nem todos os dias falam de sexo.

É que o sexo deste livro é um bocado "artificial". Eu explico.
Era suposto o livro ter servido de "alavanca editorial". Escreve-se uma coisa com sexo para poder abrir caminho a uma publicação regular numa editora.

Por isso, eu "fui ao encontro do sexo" para que o livro ficasse um bocado "spicy". É claro que também me serviu de desculpa para andar nos clubes de strip e poder dizer: "É trabalho".

Só que as coisas correram bastante mal. A editora que me deu "carta branca para avançar" ('podes escrever o que quiseres, desde que seja bem escrito')pretendia que o livro fosse mais sério e com uma abordagem menos humorística. Soube disto a meio de Novembro, já ia com o livro a meio.

Depois, uma menina de ataque que desafiei para fazer um diário respondeu-me assim: "Se eu quisesse escrever um livro, escrevia. Tenho computador em casa. A minha vida não dava um livro. Dava dez filmes".

Seguiu-se o desafio a uma stripper. Que aceitou. Mas depois esteve 8 meses desaparecida em combate. Pelo que eu segui o meu caminho, a solo. Em relação a meninas e a editoras.

Quando acabei o livro fui à D.Quixote. Mas a D.Quixote já tinha um do mesmo estilo, que pode ter servido de tampão: "Amanhã à mesma hora, diário de uma stripper", de Leonor Sousa, que vim a conhecer na Feira do Livro.

Resumindo: fiquei encalhado.

E continuam a sair livros sobre sexo, uns atrás dos outros. Agora foi o diário da brasileira Bruna Surfistinha, da Presença (para onde cheguei a mandar um original de um romance que é grande à brava), o diário de uma menina portuense (Maria Porto), na Palavra, que tem feito um belíssimo trabalho na divulgação de autores brasileiros. Agora comprei "Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios", de Marçal Aquino.

E mais um sobre uma prostituta brasileira em Lisboa. Em comum têm um investimento mais reduzido em termos de produção e design.

A Bruna Surfistinha teve uma ampla divulgação, ao contrário dos outros livros.

O que me chateia é a fraca qualidade literária. Parece que o mais importante é o livro ser oriundo de uma puta ou stripper.

Isto acontece pela falta de exigência das leitoras. Sim, porque a grande fatia dos compradores é constituída por mulheres, que ainda vão à procura do fruto proibido. Basta falar de sexo para ficarem interessadas.

Podiam ler os clássicos anónimos da Europa-América, mas não. Isso quase não vende. Podiam ler Sade, Henry Miller, Bukowski, Erica Jong. Mas não. Lêem o sexo light.

"O Diário de uma ninfomaníaca" é mal escrito. Foi um êxito. A autora deu a cara.
"Escovei o cabelo cem vezes antes de me deitar" é mal escrito e pouco credível. Foi um êxito. A autora --a italiana de 16 anos Melissa P.--- escondeu a identidade, mas deu muitas entrevistas.

O melhor livro sobre sexo "Cidade do Strip", de Lilly Burana (nome fictício de uma autora que deu a cara e foi colunista dos mais prestigiados jornais e revistas norte-americanas) não teve direito a entrevistas com a autora nem uma máquina de marketing a funcionar a todo o vapor. Resultado: passou despercebido.

Também despercebido passou "Tusa", de Melvin Burgess, um excelente livro sobre sexo, escrito por um inglês com alguma consagração em Inglaterra. Pedagógico e delirantemente bem disposto. E com um factor extra: uma boa tradução. Este foi um "flop" da D.Quixote e quase não vendeu nada.

Também há escritores consagrados no Brasil, polémicos e que escrevem sem medo, que não vendem em Portugal: Nelson Rodrigues e Rubem Fonseca são dois exemplos.

E o Nelson Motta, cheio de talento, também não chegou às vendas a que normalmente poderia ter chegado. "O canto da sereia" é magnífico.

A D.Quixote teve dois livros que foram bem escritos: "Amanhã à mesma hora" foi o primeiro. Passou a barreira dos 35 mil porque a Leonor foi ao "Big Brother". E teve um grande investimento de marketing. Mas levou dois anos no processo de produção e houve uma jornalista a ajudar a Leonor.

O outro foi "Belle de Jour". Nitidamente bem escrito. Oriundo de um blogue, premiado como o melhor blogue do ano na Inglaterra. Depois a própria blogosfera denunciou que a autora era jornalista, em vez de call-girl. Mas é um trabalho muito bem elaborado. Vendeu muito menos e não chegou aos tops. Porque a autora não deu a cara, não veio a Portugal, não houve entrevistas.

Concluindo: usufruí da experiência humana. O facto de ter procurado o sexo neste "Diário Sexual de um escritor frustrado" e o futebol em "Neura 2004" e "Fado, futebol e farpas, uma aventura psicadélica" não cumpriram o papel de "alavancas" para que pudesse passar a publicar regularmente.

Diferente é a perspectiva em relação ao romance "Seja o que Deus quiser", aos livros de contos "O homem que casou com uma estrela porno e outros contos perversos", "A mulher que fazia recados às putas e mais contos perversos", "15 desatinónimos para Fernando Pessoa", aos livros de poemas "De boas erecções está o Inferno cheio" e "A Idade das Trovas" ou a peça "Meia-dúzia de maldades".

Tudo isto foi escrito sem um objectivo específico, pelo que não são afectados pelo tempo. "Neura 2004" e "Fado, Futebol e Farpas" colados ao Europeu e ao Mundial. O "Diário Sexual de um escritor frustrado" como referência temporais bem definidas.

Bolas. Escrevi um testamento. Mas acho que os meus fãs têm direito a um "making of". Isto não é um DVD, mas a caixa de comentários pode ser encarada como uma espécie de extra.

4:31 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

o José Vegar foi um destacado colaborador do DN-JOVEM e começou a dar nas vistas com 16 anos.
Já tinha bastante maturidade e apreciava a troca de pontos de vista. Era já a costela de ensaísta a manifestar-se.

Ganhou notoriedade como jornalista do "Expresso" e pelas reportagens que realizou por ocasião dos "meses de brasa" em Timor.

É um homem que gosta de investigar, que se dedica ao trabalho com toda a seriedade. Tem fôlego e paciência para a escrita.

4:35 da manhã  
Blogger Maríita said...

Meu querido,
Lá estás tu a provocar-me, então com um espanhol de apelido rabo para a editora polvo... hum...

A natacinha anda cheia? O Holmes propôs-nos aqui umas tarifas especiais e ainda pensei se me inscrevesse dar-te uma apitadela e irmos os dois juntos, mas com a descrição que fazes acho que dispenso.

Realmente há agora uma panóplia de escritoras-prostitutas que é demais, mas concordo contigo, o sexo vende. Henry Miller e Anais Nin são interessantes, mas não são best-sellers e esse é o problema hoje em dia. Quanto ao sexo, dá-me a sensação que quanto mais se fala menos se faz.

Beijocas

2:27 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Pois é. E o Rui que traduziu rabo por...rabo, à portuguesa, no primeiro livro dele. Se fores ao link chupamelrabo ficas a saber a pinta do bicho.
Como pintor não tem nada a ver com o trabalho em BD.

Depois de ter escrito este comentário fui ao blog da Maria Porto e verifiquei que já dá a cara e anda para aí a dar entrevistas com fartura. A miúda tem sentido de humor, isso é indiscutível. E atirou-se como gato a bofe ao "Eu, Carolina", acusando de não ser literatura. O pior é que depois escreve logo a seguir "previlegiado".

Com este "Diário" senti-me um bocado culpado, porque escrevi de propósito para vender, o que já não aconteceu com os outros livros.

10:18 da tarde  
Blogger Capitão-Mor said...

Bom, eu não tenho que vir aqui engraxar ninguém, mas creio que este tipo de textos poderiam ter dado um livro interessante. Dos livros que mencionou, apenas li o da Leonor Sousa na minha última estadia em Portugal. Não gostei e creio que não seriam necessárias mais de 400 páginas para não dizer nada de novo. Aliás, nota-se que a mulher teve medo de penetrar mais a fundo no obscuro mundo da noite. Foi tipo um livro do género "O mundo do strip para iniciantes"...
Acredito que o submundo lisboeta daria pano para mangas a nível literário. Bastava dois ou três meses a frequentar o Black Tie e teríamos muito para escrever e fora dos lugares comuns desses escritos de prostitutas, strippers e afins.

Nunca li a Bruna Surfistinha mas o sucesso dela aqui no Brasil é notável. Melhor ainda foi um livro editado pela ex-mulher que foi trocada pela Surfistinha. Ou seja, hoje também já podemos proceder á lavagem de roupa suja por via literária.

O mais importante de tudo é nunca desistir. Por vezes também sinto o apelo da escrita, mas por agora será melhor ficar-me por colocar umas "variedades" na blogosfera.
Abraço

11:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Obrigado pelas palavras de estímulo.

Eu nunca desistirei de escrever, porque é uma coisa que não controlo.

Publicar não é uma obsessão. Seria um decurso natural da escrita, mas as coisas são bem mais complicadas, como bem sabemos.

O material que tenho em gaveta já é tanto que não me apetece estar a escrever mais, pensando em publicar. O que tiver de sair, sai, como me disse uma vez o Diniz Machado.

Ontem de madrugada saiu um poema, hoje fui brincar um bocado para um workshop de escrita criativa na Casa Fernando Pessoa. Amanhã começo o segundo módulo do workshop com o Sinisterra, no D.Maria. Aí, a coisa fia mais fino, porque há um espectáculo em causa. Tenho de trabalhar, para respeitar o Sinisterra e os colegas. Há um compromisso de honra. Ocupo um lugar, tenho de trabalhar.

Uma vez por mês tenho a crónica do site "Cidades Crónicas".

Ou seja, vou escrevendo. Mas a leitura é uma paixão maior.

Pelo seu lado, é ir em frente! Se há vontade de escrever, que se aproveite essa vontade de escrever.

O que se escreve na blogosfera não tem nada a ver com o que se escreve para um livro. A menos que se saiba antecipadamente que o que se está a escrever num blogue vai passar a livro.
É o caso do último livro do Pedro Mexia. Ele já sabia que os textos do blogue iam passar a livro. Por isso, teve cuidados específicos ao escrever no blogue. E a edição em papel obriga sempre a um trabalho de selecção e coerência.

Comigo acontece o contrário. Os "15 desatinónimos" e o "Diário sexual de um escritor frustrado" são blogues "falsos". São livros, escritos como tal, passados a prestações para o espaço de um blogue. Devido ao desafio dos amigos.

2:54 da manhã  

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